Cuba, um farol na luta revolucionária dos povos



Pedro César Batista

Chegar em Cuba sempre é como entrar em uma sala de aula magistral, aprender com um povo que vivencia o debate de ideias e pratica a criatividade e ousadia revolucionária diante das agressões dos EUA, mais ainda com o recrudescimento imposto por Donald Trump. São mais de 60 anos de um cruel e criminoso bloqueio, que impede o ingresso de medicamentos, alimentos, recursos financeiros e tecnológicos, transações comerciais e aplica a teoria da "fruta madura", definida pela colonial Doutrina Monroe, que afirma “a América para os americanos”. Reafirmada pelo “Torne a América grande novamente”, com ações em curso para atacar a soberania dos povos, especialmente na América Latina e Caribe, com Cuba sendo um dos alvos principais dos crimes que o imperialismo executa.

Na chegada ao aeroporto José Martí se vê que a revolução resiste, as luzes estão acesas, colorido e bastante limpo, muitos jovens fazem a identificação na migração e o controle no raio X, a maioria mulheres. Tudo muito rápido, assim como a retirada das bagagens. Ao sair, uma das malas tinha sido marcada com um X em vermelho no tíquete de identificação. Tivemos que voltar para que a mala fosse aberta e vistoriada. Continha sondas nasogástricas e medicamentos, que seriam doadas para a rede da saúde. Depois de liberados, saímos em busca do amigo de décadas, Jorge Ferrera, que nos aguardava. Ser recebido por Ferrera é uma honra, ele recebe brasileiros desde 1980, primeiro pelo partido, agora pela amizade. Recebeu Lula, frei Beto, Fernando Moraes e tantos outros, entre os quais me incluo, quando fui refugiado na Ilha. Com Ferrera e seu Lada, 1979, seguimos para La Habana.



Cedo saímos do Residencial Costillar del Rocinante, também conhecido como Hotelito dos Periodistas, localizado na esquina da Calle 21 com Calle G, a Avenida de Los Presidentes, fomos encontrar Amadito, dirigente do CDR da região, um dos responsáveis por receber as doações ao sistema da saúde cubana. Entregamos centenas de sondas nasogástricas no Instituto Oncológico de Cuba. A Dra. Ariadna, chefe de Urgências Oncológicas do INOR, fez uma pequena pausa nas consultas para receber os equipamentos médicos. A doação das sondas foi feita pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, a qual nos coube levar.

Fomos e retornamos caminhando entre as Calles 21 e 29, levando a grande mala com os equipamentos fazendo uma parada em um café e em uma praça, onde conversamos com gente do povo. Um ex-motorista de ônibus, José, denunciou que "os ônibus estão nas garagens porque não há peças para manutenção e reposição", devido a ação criminosa dos EUA. Disse ainda, "o presidente Diaz Canel tem feito muito para enfrentar a situação, principalmente mobilizar o povo, que segue firme na defesa da revolução". Nas ruas as pessoas pegavam taxis e outros transportes que circulavam, as lojas e tendas estavam lotadas, com pessoas se alimentando e fazendo compras.

Assim como fizemos, delegações internacionalistas de muitos países levam remédios e equipamentos médicos para ajudar o povo e governo cubano a enfrentar a situação. São várias as formas de apoio, desde uma mala com medicamentos ou mesmo ajuda mais robusta enviando containeres com os produtos que se precisa. Ainda assim, é pouco, diante da crueldade da política imperial e criminosa, que em uma das ações mais perversas dos EUA impede a entrada de insumos para a produção de medicamentos em Cuba ou sementes para cultivar. A empresa que vender o produto será perseguida e impedida de fazer transações comerciais com o sistema financeiro e empresas estadunidenses. Os EUA atacam impiedosamente o povo cubano e quem os apoia, mas isso não impede a disposição da população da ilha nem da solidariedade de povos do mundo inteiro a Cuba. Importante ressaltar o apoio que China, Rússia, Venezuela e México oferecem em todas as áreas, especialmente com o envio de combustível, recursos para enfrentar os problemas energéticos, alimentos e outros itens necessários.

Em todo o país se vê as dificuldades provocadas pelo bloqueio estadunidense. As construções centenárias resistem, as cores estão desbotadas. A coleta de lixo é feita com dificuldade, falta equipamentos para a manutenção dos caminhões. Ainda assim se vê jardins bem cuidados, avenidas e ruas limpas e movimentadas. Havana segue sendo bela e uma das cidades mais lindas do mundo. O Malecón, em seus 7 quilômetros, está limpo, com as pessoas passeando na margem do mar do Caribe, enquanto casais se amam tendo como trilha sonora o barulho das ondas das águas azuis. Os automóveis com décadas com roncam seus motores se misturam com carros e motos modernas e silenciosas. A história da boemia do passado é convertida na resistência de um povo que conhece seu passado e sabe onde quer chegar.

Situações que nunca tinha visto estão a olho nu, com pessoas pedindo ajuda para se alimentar ou recolhendo latinhas para reciclagem. Para quem vive em um país com 212 milhões de habitantes, com 1% dos mais ricos, possuindo cerca de 70% da riqueza, a pobreza em Cuba não assusta. Está evidente que os ataques dos EUA, ao apertarem o cerco, é a causa da situação que, pela primeira vez, desde a revolução, em 1959, Cuba enfrenta. Por outro lado, nas festas em comemoração aos 72 anos do assalto aos Quartéis Moncada e Céspedes, bem como na praia de Santa Maria, o que se vê é o povo feliz, dançando e com o sentimento de comunidade e firme na defesa das conquistas da revolução. Em meio ao povo se encontra quadros revolucionários, consolidados e com clareza das tarefas para a superação das dificuldades atuais. Mesmo pessoas enfrentando necessidades, entendem as causas e seguem firmes na construção do socialismo. Também se vê a força da influência ideológica dos EUA em camisas e bandeiras estadunidense em verdadeira provocação.

O exemplo do comandante Fidel Castro se encontra nas ruas e pode ser visto no Centro Fidel Castro Ruz, onde fomos recebidos por Elier Ramirez, diretor da instituição e pesquisador, com vários livros publicados e o amigo Juan Pozo. Delegações de diversos países presentes, conhecem a vida do Comandante em Chefe, desde a sua origem familiar, sua infância, juventude e as lutas e vitórias lideradas por ele. Fidel está em todos os lugares, não em imagens ou monumentos, mas no cotidiano e mentes de um povo que tem suas referências em Manuel Céspedes, José Martí e Fidel, entre tantos mais, homens e mulheres, que fizeram de suas vidas trincheira permanente na defesa da liberdade e dignidade contra os colonizadores e exploradores.

Ferrera nos levou para uma conversa com o comandante Victor Dreke, que em seus 89 anos, segue lúcido e firme dos acertos do caminho trilhado. Ainda jovem esteve na tomada de Santa Clara, em 1958, quando foi baleado e tratado por Che Guevara, combateu no Congo e integrou o primeiro Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, fundado em outubro de 1965. Seus olhos brilham e podemos sentir o pulsar de seu coração ao contar os feitos gloriosos de sua vida. Ana, sua companheira, médica e vereadora, nos oferece um saboroso café, traz o velho exemplar do jornal Revolucion, anterior ao Granma, onde se vê a composição do primeiro Comitê Central e mostra as fotos onde seu companheiro, Fidel e Che conversam antes da partida para o Congo. Em uma conversa de horas, Dreke ressalta a importância da unidade para a vitória e manutenção da revolução.





Na estada na Ilha, também nos reunimos com Omar Bussan, embaixador da República Árabe Saaraui Democrática – RASD, que destaca a impressionante força do PCC em Cuba. Fala das dificuldades que presencia e agradece o apoio que o Saara Ocidental recebe. Cuba reconheceu a RASD em 1981, desde quando possui a embaixada no país. Cuba recebe jovens para estudar e reforça à luta pela autodeterminação do povo saaraui permanentemente, independente das dificuldades que enfrenta.

Em 26 de julho, o Dia da Rebeldia Cubana, participamos de um ato no Centro de Havana, onde o povo cubano pratica tai-chi-chuã, um espaço mantido pela comunidade. Vimos todas as gerações se manifestarem, desde os adultos maiores até as crianças. Na atividade conhecemos e conversamos com Ramon Pardo Guerra, General de Divisão, ex-Chefe do Estado Maior e atualmente deputado da Assembleia Popular. Guerra combateu em Sierra Maestra desde a chegada dos guerrilheiros no iate Granma, esteve sob o comando de Che Guevara e também combateu na tomada de Santa Clara. Uma síntese da resistência comprovada nas crianças e adultos maiores, que festejaram o 26 de julho.



Cuba vive um dos momentos mais difíceis, o que coloca a importância do apoio dos BRICS ao povo e governo cubano. Pudemos observar a importância da política que implantou pequenos negócios privados (contapropistas) e as Micro e Pequenas empresas (MPGS) para fazer a economia girar. Ao mesmo tempo que traz novas contradições cria as condições para enfrentar os cruéis atos criminosos dos EUA.

Com Ismael Cesar, dirigente nacional da CUT brasileira, vivenciamos dias de intensa aprendizagem e fortalecimento do compromisso com a permanente defesa da revolução socialista em Cuba. A solidariedade tem papel fundamental, não apenas no apoio material, que, certamente, exige uma postura prática, além dos discursos, especialmente de governos nacionais na efetiva solidariedade, como fazem China, Rússia e Venezuela, mas na construção da unidade, principal ensinamento das aulas que Cuba sempre nos mostra, no Brasil. Os EUA e seus aliados, inimigos de Cuba, também são os que acreditam que somos sua colônia e nossas riquezas a eles pertencem.



A revolução cubana que derrotou a ditadura de Fulgêncio Batista, os EUA, em Praya Girón, o analfabetismo e que enfrenta há décadas os permanentes ataques mostra que aquilo que parece impossível é possível quando se constrói a organização dos trabalhadores e de todo o povo, conscientes de seu papel histórico e revolucionário. Cuba segue nos inspirando e animando, venceremos.

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