REDES ANTISSOCIAIS



Pedro César Batista

Para o polonês Zygmunt Baumam as redes virtuais cumpririam o papel de desconstruir as comunidades, assim tem sido, apesar de serem chamadas de redes sociais ou de comunidades.

A tecnologia avançou nas duas últimas décadas com uma velocidade que não se imaginava. A história em quadrinho da família Jetsons, escrita na década de 1970, mostrava os personagens falando entre si por meio de um pequeno aparelho em que se viam por uma tela. Isso parecia algo tão distante, aparentemente inatingível.

Hoje existem inúmeros aplicativos que, usando os aparelhos mostrados pela família Jetsons permite falar por vídeo duas ou mais pessoas. O que parecia impossível é uma realidade.

Com a pandemia adquiriu-se o hábito de se fazer reuniões virtuais, o que tem grande valia para as pessoas que, por variados motivos não podem se deslocar ou estão distantes do local da reunião. Entretanto, mesmo grupos próximos ou na mesma cidade optam por fazerem reuniões virtuais, muitas vezes com a câmera fechada, utilizando apenas o áudio. Tem gente que participa de duas reuniões ao mesmo tempo.

Os aplicativos nas redes são variados. Neles as pessoas podem ver, olhar e acompanhar o que as pessoas postam. Também há o recurso de ver tudo sem serem vistas. Estalquear (stalkear) virou verbo. Quem não quer ser visto lendo ou acompanhando determinada postagem tem vários instrumentos para permanecer em incógnito. Posicionar-se em uma discussão nem sempre, mas ver tudo, sim.

O WhatsApp, aplicativo mais popular para diálogos é o mais popular. Criam-se grupos de tudo: família, amigos, sindicatos, partidos, correntes políticas, movimentos, o que se desejar. Até um fascista foi eleito presidente no Brasil utilizando este aplicativo, largamente usada pelas forças da extrema direita, apoiadas pelo controle dos algoritmos. O mesmo ocorreu na votação do Brexit, quando o Reino Unido saiu da União Europeia e na eleição de Donald Trump e Bukele, em El Salvador. Tem sido largamente usado para conspirações contra governos e lideranças que não são alinhadas com os interesses dos EUA e dos proprietários das plataformas, que controlam e decidem o algoritmo, com eles decidindo o que querem que seja visto e o que não deve ser visto.

Essa prática de separar as pessoas segundo interesses, cada vez mais específicos tem causado grandes danos nas relações sociais e na vida das pessoas. O whatsapp tem o recurso de optar por não não mostrar quando se lê uma mensagem, o que faz com que usuários respondam quando desejam e se desejarem aos seus interlocutores. Isso ocorre nas relações pessoais ou nos grupos. É comum grupos com mais de 200 pessoas que não interagem, as pessoas habituaram-se a stalkear o que é postado pelas demais pessoas, sem se posicionarem, permanecendo aparentemente alheias ao que se se tenta dialogar, o que raramente ocorre nos grupos virtuais. Uma postura pensada para afastar mais ainda as pessoas neste tempo de alta tecnologia, controlada pelos magnatas fascistas, proprietários das plataformas.

Baumam acertou em cheio. O mundo, segundo ele se tornava líquido, com as redes virtuais cada vez mais destruindo comunidades e isolando as pessoas, que seguem em seus mundos, acreditando que a tecla lhe dá o poder de fazer o que e quando quer, sem fortalecer laços, fomentar união de comunidades, que cada vez mais se fragilizam e se dispersam. Basta criar um novo grupo, um perfil novo e configurar para que permaneça sem ser visto, mas siga vendo tudo. Assim pensam ter o poder que os poderosos pensaram para dividir e fragmentar a sociedade, especialmente quem combate o sistema.

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