UNIR AS FORÇAS POPULARES EM DEFESA DA DIGNIDADE NO BRASIL



Pedro César Batista

Em nenhum lugar ou tempo na história da humanidade aguardar que direitos socioeconômicos e políticos sejam oferecidos pelas classes dominantes foi o correto, já que estas retiram os direitos dos trabalhadores e de todo o povo para atender seus interesses econômicos, aumentar os lucros e servir ao capital internacional, o imperialismo, apesar de fazerem intensa propagação dizendo o contrário, como se fossem humanistas e democratas, abusam de mentiras e violência para conservarem o poder.

Em 522 anos, no Brasil, desde a chegada do colonizador português, a exploração do trabalho tem sido garantida com a imposição da violência das oligarquias, que nunca economizaram em aplicar o seu ódio, desprezo e humilhações a quem ousou e ousa enfrentá-los.

A Casa Grande se sustentou 388 anos com a violência dos carrascos aplicando açoites, mutilações e suplícios desumanos aos milhões de escravos, que seguiram excluídos e alijados de todos os direitos, após 1888. Atualmente essa violência que garante a exploração tem outras características, mas seguem impondo terror e o medo ao povo brasileiro .

As Forças Armadas e suas forças auxiliares, dirigidas por comandantes nos estados brasileiros, têm uma longa trajetória de repressão aos movimentos populares, inclusive com a prática de genocídios e extermínios em massa. Entretanto, neste momento, age de forma conivente e solidária com o movimento nazifascista no Brasil, acampado em frentes aos quarteis, com mobilizações para bloquear rodovias e a prática de inúmeros atos terroristas por não reconhecerem o resultado das eleições que elegeram Luís Inácio Lula da Silva para a Presidência do Brasil. Este movimento da extrema direita ocupa as áreas adjacentes aos quarteis do Exército, com toda estrutura física e recursos financeiros, em defesa de um golpe militar, propaga a violência e o assassinato de militantes de esquerda. Tudo isso ocorre impunemente, inclusive com alguns generais o apoiando .

Desde a implantação da República, em 1889, o povo brasileiro tem sido vítima da violência de suas forças armadas e militares. A única exceção foi a Coluna Prestes (1924 – 1927), conhecido como movimento Tenentista, que marchou cerca de 25 mil quilômetros em território nacional, sem sofrer uma derrota, propagando um programa que defendia a reforma agrária, o direito ao voto, às liberdades e o fim do analfabetismo. Liderada por Luís Carlos Prestes, reuniu centenas de oficiais, que acabaram divididos, com uma parcela aliando-se ao governo de Getúlio Vargas, que deu um golpe em 1930 e assumiu o poder. Em 1931, Prestes seguiu para o exílio em Moscou . Fora este movimento, as ações das Forças Armadas brasileiras têm sido contra o povo e a serviço das oligarquias.

O massacre em Canudos, o primeiro grande genocídio da República, em 1897, praticado pelo Exército não poupou nem as crianças e mulheres que viviam no vilarejo, liderado por Antônio Conselheiro. A consequência foram quase 30 mil mortos no sertão baiano .

Entre 1912 e 1916, outro brutal massacre contra os pobres. Desta vez no Sul do Brasil, em Santa Catarina e no Paraná, no Contestado, quando o Exército deixou 20 mil mortos .

Em 1924, o Exército bombardeou São Paulo, após ordem do ministro da Guerra, Setembrino de Carvalho - que também comandou o massacre no Contestado, destruiu parcialmente a capital paulista, naquilo que foi considerado o “maior conflito bélico urbano na história do Brasil e da América Latina”. Deixou mais de 800 mortos .

Em 1937, novamente o Exército massacrou outra comunidade que desejava apenas construir uma sociedade igualitária, Caldeirão dos Jesuítas, “uma das mais ricas experiências da vida comunitária da história brasileira”. Mataram mais de 1 mil pessoas, as quais foram enterradas em vala comum em local nunca informado pelos militares .

Em 1961, as Forças Armadas novamente tentaram dar outro golpe, foram derrotadas com a Campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola, que garantiu a posse do vice-presidente João Goulart, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros . Mas não desistiram de tomar o poder, em 1964, deram o golpe de 1 de abril, ficaram 21 anos no poder: impediram a realização de eleições, cassaram os partidos, censuraram a imprensa, prenderam, torturaram e assassinaram milhares, entre lideranças que não se sujeitaram aos crimes praticados em nome do Estado, com a ação direta da Embaixada dos EUA na coordenação do golpe .

Os povos indígenas não escaparam da violência das Forças Armadas; O povo Waimiri Atroari, possuía uma população estimada em 3 mil pessoas, em 1964, quando o Exército saiu da região, ocupada para construir a BR 174 (Manaus – Boa Vista) para atender as grandes empresas, restavam apenas 350 indígenas .

Entre 1968 e 1972, mais de 10 mil soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica atacaram dezenas de guerrilheiros do PCdoB, que atuavam na região do Araguaia. Perseguiram e prenderam os moradores para que dessem informações sobre jovens militantes, os quais foram assassinados quase em sua totalidade .

Os camponeses, em luta por terra na região de Eldorado de Carajás, município no Estado do Pará, região amazônica, fecharam um trecho da rodovia PA-150, na tarde de 17 de abril de 1996, exigiam transporte para poderem ir à capital, Belém, reivindicar reforma agrária. A PM desobstruiu a rodovia com rajadas de metralhadoras, mataram 19 mortos e feriram dezenas de trabalhadores . Na luta pela terra, entre 1964 e 2022 foram assassinados milhares de trabalhadores e seus defensores, quase todos com a participação direta de policiais e outros agentes públicos, sempre a serviço do latifúndio .

Em 1988, o Exército ocupou a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, quando mais de 10 mil operários exigiam melhorias salariais, deixando 3 mortos .

Em abril de 2019, em um bloqueio do Exército nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, mais de 80 tiros foram dados por soldados no músico Evaldo Rosa, que seguia com a frente da família para uma festa de aniversário . Era domingo.

Não podemos esquecer outros massacres praticados pelas policias militares contra o povo brasileiro. Acampamento Pacheco, construção de Brasília (1958), Ponte Rodoferroviária, em Marabá, nunca identificado o número de mortos (1987), Corumbiara - 12 mortos (1995), Pau d’Arco - 10 mortos (2017), favelas do Rio de Janeiro, periferias de capitais e cidades brasileiras com centenas de mortos ao longo de anos .

Apesar de tantos crimes, ao longo de pouco mais um século de República, os assassinos que mataram em nome do Estado nunca foram punidos. Em 1979, quando se aprovou a anistia durante o processo de transição da ditadura, foi assegurado que torturados e torturadores tivessem o mesmo tratamento. O mesmo ocorreu com os assassinos dos massacres anteriores, desde Canudos até os assassinos do músico Evaldo.


Claudia assassinada pela PM do RJ

Durante a votação do impeachment, em 2016, quando Bolsonaro votou disse que votava “em homenagem ao coronel Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff”. Ustra foi o torturador de Rousseff e de dezenas de vítimas, com mais de 100 mortos no DOI-CODi, órgão que o coronel torturador chefiou .

Com a eleição de Bolsonaro, expulso do Exército por tentar explodir uma bomba no quartel e outra em um gasoduto, uns generais silenciam-se, outros o apoiam, enquanto nazifascistas, que não reconhecem o resultado eleitoral para a Presidência do Brasil e desde o dia 31 de outubro causam ondas de violência, com assassinatos, incêndios em comércios e automóveis e seguem mobilizados em frente aos quartes, sem nenhuma ação concreta para barra-los. O Ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou às policias que atuem para identificar e os responsáveis sejam punidos, mas a ordem não tem sido executada por deveria.

A história das Forças Armadas brasileira mostra que não se pode confiar em quem tem uma longa ficha criminal contra os interesses nacionais e massacres contra o povo. Barrar esta onda nazifascista, dar um basta aos crimes que praticam e garantir a legalidade democrática neste momento é a principal tarefa das forças progressistas e democráticas. Na história nacional somente quanto ocorreu a unidade de todas as forças democráticas, progressistas e legalistas foi possível derrotar o terrorismo de Estado.

O momento exige a unidade, mobilização e organização da mais ampla resistência em defesa da legalidade democrática, que obriga as autoridades a prenderem os terroristas, que tentam, mais uma vez, impor a dor, o medo e o terror ao povo brasileiro.

Não basta esperar que a legalidade seja executada, urge a mobilização de todas as forças para que a lei seja cumprida e a normalidade restaurada.

Notas:

CHIAVENATTO, J. O Negro no Brasil. Ed. Brasiliense, 1980.
https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/video-general-do-exercito-defende-que-manifestantes-bolsonaristas-sejam-protegidos/ GENERAL DO EXÉRCITO DEFENDE...
PRESTES, A. L. Uma epopeia brasileira – A Coluna Prestes. Expressão popular, 2009.
CUNHA, E. Os Sertões. Ed. Princípios, 2017.
http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/97-tema-contestado.html CONTESTADO
https://horadopovo.com.br/revolucao-de-1924-1-sao-paulo-cidade-aberta/ Revolução de 1924 – 1 SÃO PAULO CIDADE ABERTA..
RIBEIRO, D. O povo brasileiro. Ed. Brasiliense. 1990. http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/sugestao_leitura/sociologia/povo_brasileiro.pdf
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/612633-campanha-da-legalidade-60-anos-de-uma-luta-pelo-cumprimento-da-constituicao-brasileira CAMPANHA DA LEGALIDADE.
https://memoriasdaditadura.org.br/filmografia/o-dia-que-durou-21-anos/ O dia que durou 21 anos
https://amazoniareal.com.br/waimiri-atroari-sobreviventes-de-genocidio-relatam-ataques-durante-obra-da-br-174/ WAIMIRI-ATROARI SOBREVIVENTES DE GENOCÍDIO ...
http://memorialdademocracia.com.br/card/guerrilha-do-araguaia-combate-em-silencio GUERRILHA DO ARAGUAIA...
BATISTA, P.C. Marcha interrompida. Ed. Thesaurus. Brasília, 2006.
BATISTA, P.C. João Batista, mártir da luta pela reforma agrária. 3ª Ed. Expressão Popular, Brasília, DF. 2018.
https://contrafcut.com.br/noticias/massacre-e-morte-de-tres-operarios-em-volta-redonda-completa-26-anos-bbb9/ MASSACRE E MORTE DE TRES OPERÁRIOS ...
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-04-10/dois-anos-depois-caso-dos-80-tiros-segue-sem-solucao-e-desesperador-diz-viuva-de-musico-fuzilado-pelo-exercito.html DOIS ANOS DEPOIS...
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/07/veja-outros-massacres-apos-operacoes-policiais-no-brasil.shtml BRASIL TEVE ...
https://www.brasildefato.com.br/2018/10/17/conheca-a-historia-sombria-do-coronel-ustra-torturador-e-idolo-de-bolsonaro CONHEÇA A TENEBROSA HISTÓRIA...
Supremo Tribunal Federal – STF e Tribunal Superior Eleitoral - TSE

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