Ocupar Brasília e às ruas do Brasil



Pedro César Batista

Repete-se a todo momento que a extrema direita saiu das catacumbas. Vê-se isso nas ruas com o movimento que não aceita o resultado que elegeu Lula para a Presidência do Brasil. Setores reacionários, financiados por empresários corruptos e apoiados pela ação ou omissão de quem deveria agir em nome do Estado, ameaçam a legalidade, a democracia e a estabilidade política do país.

Na história não faltam exemplos de ações terroristas, que desestabilizam sociedades. No Chile, em 1973, os caminhoneiros, organizados pelos empresários e financiados pela CIA, realizaram um locaute (lockout) que deu base a um duro golpe contra o povo chileno. Mais recentemente, na Bolívia, Venezuela e Nicarágua, com os mesmos financiadores, foram realizados atos de rua, que deixaram dezenas de mortos, sempre com o mesmo argumento, o não reconhecimento do resultado das urnas. No Brasil, Dilma foi cassada arbitrariamente, Lula encarcerado e um inexpressivo deputado fascista eleito presidente, que, diante de tantos crimes no governo, apresentaram-se quase 200 pedidos de impeachment, todos engavetados pelos seus aliados, e segue no governo, inclusive com apoio de setores populares, que nas ruas pedem um golpe de Estado, mais um, para que sigam no poder.

Ficar apenas esperando que as autoridades, em nome do Estado, respondam aos atos da extrema direita não é aconselhável. No dia da eleição do segundo turno, vimos a ação da PRF, por ordem de seu superintendente – que tem longa ficha corrida, atuar para impedir o livre exercício do voto. E, neste momento, mesmo com ordem judicial, comandantes militares não desobstruem as vias públicas, pelo contrário, o Comandante da PMDF encaminhou ofício ao Ministro Alexandre Moraes em que afirma que as manifestações em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, tiveram a autorização do Comando Militar do Planalto e “não foram identificadas, por parte do Exército Brasileiro, nem por parte da PMDF, quaisquer irregularidades ou condutas ilícitas”, acrescenta ainda, que são “atos de iniciativa popular – AIP ou sociedade civil organizada”.

Diante da experiência acumulada pela extrema direita na região, com ações terroristas em vários países, bem como as ações fascistas em curso contra a legalidade no Brasil, a omissão das legítimas organizações da sociedade brasileira, na defesa dos mais legítimos interesses do povo brasileiro poderá custar um valor inestimável, conforme a história já mostrou em outras oportunidades. Por isso, as Centrais Sindicais, os Partidos da base do Presidente Lula e de seu Vice, Alkmim, os Movimentos Sociais e Populares, a intelectualidade, artistas e os movimentos camponeses têm a tarefa e a necessidade histórica de se unirem, organizarem-se e se mobilizarem para garantir a posse do novo governo e defender a aplicação das normas constitucionais para dar um basta aos golpistas da extrema direita fascista.

Ocupar Brasília em primeiro de janeiro, na posse de Lula, organizar para colocar, no mínimo, um milhão de pessoas no ato, deve ser a tarefa do momento, assim como criar as condições para retomar as ruas, ocupá-las e delas não sair, garantir a governabilidade, a retomada das lutas democráticas e a defesa dos direitos sociais que após o golpe de 2016 foram retirados.

O hábito do cachimbo, costuma-se dizer, deixa o queixo torto, portanto, ficar parado, não dar a devida resposta, nem mesmo estar preparado para enfrentar os atos terroristas e criminosos da extrema direita fascista já mostrou, em muitas situações, seja no Brasil, ou em outros países na América latina e Caribe, o alto preço que se paga, com a perda de vidas, a institucionalização da tortura e a perseguição a quem não coaduna com o nazifasmo. O momento não é o de a sociedade civil se omitir, deixar que os fascistas sigam se dizendo, ainda mais, por quem sempre reprimiu as lutas do povo, que isso é “iniciativa popular”. Cabe aos legítimos representantes dos interesses do povo brasileiro se unir e colocar milhões nas ruas.

Imagem: Ricardo Stuckert

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