Ação pela utopia.



Pedro César Batista

Há algumas décadas em lutas nas ruas, com organização e unidade, obtivemos muitas conquistas. Mesmo com os torturadores e assassinos, fardados ou civis, não tendo sido julgados e presos, apesar de tantos crimes praticados a partir do golpe de 1964, conquistamos a normalidade dentro da democracia institucional e a liberdade de poder projetar a construção da utopia de uma sociedade mais justa e igualitária. Seguir a luta pelo socialismo. Vivenciamos, desde então, o maior período democrático da história nacional.

A utopia, um projeto que resulta da ação coletiva do proletariado enquanto classe social, foi transformada pelos seus inimigos em sua antítese, com a barbárie se tornando aceitável e defensável, inclusive, por alguns sádicos, que se utilizam do pensamento cristão. Uma distopia que se aprofunda velozmente.

No passado, repeti várias vezes, que acreditava que vivenciaria esse novo tempo, a conquista do socialismo; este momento não chegou, pelo contrário. Conquistas do passado têm sido jogadas no lixo da história. Inclusive com alguns setores ditos progressistas repetindo o discurso programado pelos carcomidos capitalistas em seus centros de pesquisas linguísticas e propagados em telas coloridas e modernas.

O raio de sol ao meio dia veio em forma de coice do fascismo. O nazismo resurgiu com todo o apoio militar e econômico do imperialismo. O tempo que era de florescer, transformou-se em um funesto período de destruição, retirada de direitos elementares conquistados com sangue e lágrimas, transformou-se em um esgoto transbordando em templos, parlamentos e em redes de mentiras e disseminação de ódio.

Muitos erros cometemos, sem dúvida. O maior, acredito, foi negar a importância das experiências das lutas revolucionárias e do combate organizado enquanto classe responsável pela produção de riquezas.

O Estado brasileiro nunca deixou de servir aos herdeiros do escravagismo, com seus agentes usando, sem economizar, a tortura e suas armas contra o povo. Para enfrenta-los é preciso ter a firmeza e a clareza dos exemplos deixados por revolucionários de todos os tempos. Não há outro caminho para conquistar a plena emancipação humana. Somente assim chegamos até aqui.

Não mais acredito que vivenciarei este raio de esplendor e o alvorecer do socialismo no Brasil. Esta conquista caberá aos jovens no futuro. Outros povos persistem e nos mostram o caminho a trilhar, mesmo enfrentando impérios, avançam em sua dignidade. Neles alimento minha utopia, fortaleço a escolha que fiz na adolescência.

Agora, neste difícil momento, com assassinos milicianos a solta, não tenho a menor dúvida, nem vacilarei, usarei meu voto, o canivete da história, para apoiar a candidatura de Lula a presidente do Brasil, com todas as suas contradições, uma possibilidade concreta para impedir a continuidade da perversidade do bolsonarismo que dissemina na sociedade e controla o governo, que tem aprofundado a miséria, a violência e nutre a desesperança. Os bolsonaristas conspiram com suas armas, fardas e púlpitos, mas não passarão. Cabe-nos, devolvê-los ao esgoto da história, retomar a mobilização, forjar a construção de um projeto capaz de se tornar uma utopia, em que o povo na rua, com consciência e organização será capaz de construir.

O tempo histórico das conquistas rumo ao socialismo ainda nem começou. Venceremos!

Foto: Tricontinental

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