Enfrentar genocidas e o egoísmo é uma tarefa revolucionária



Enfrentar a cultura da classe que detém o real poder exige a superação de valores e da moral burguesa, da superação do individualismo e egoísmo que grassam em nosso tempo.

Pedro César Batista

A cultura burguesa se sustenta na propagação de um individualismo autofágico, provocando uma competição em que indivíduos integrantes das grandes massas, completamente alijadas do acesso aos direitos mais elementares, passam a crer que isoladamente poderão alcançar o Paraíso em terra, possuir o poder, por menor que seja, mas que lhe permitam se sentir empoderadas.

Foucault, em Microfísica do poder, destaca o sentimento de um policial, oriundo das camadas populares, negro descendente de escravos, atuando como um serviçal armado para preservar o status quo e dar segurança às propriedades e proprietários, sente-se poderoso com uma arma na cintura. O filósofo francês enumera as possibilidades de fragmentação dos oprimidos ao possuírem um insignificante poder, que imaginariamente se torna gigante. Principalmente quando usado para reprimir ou atacar os seus iguais.

Há uma propagação exacerbada do egoísmo, semelhante ao apontado por Wendy Lawer, em As mulheres do nazismo, como uma das fontes usadas por quem tem o poder real, como foi usado por Hitler para ter o apoio popular para executar o genocídio de milhões, assassinados em câmaras de gás ou friamente, depois de cavarem suas próprias covas coletiva. Um individualismo egoísta exacerbado que deixou seguidores.

Umberto Eco destacou que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis, que escondidos atrás de um aparelho, mal escrevem em 280 caracteres um raciocínio, porém colocam fascistas, nazistas, machistas, xenófobos e misóginos no controle de Estados em várias partes do mundo, não respeitando a vida, a espécie humana, a natureza e alimentam o ódio e maledicência.

Se a inveja e maldades sempre serviram às classes dominantes para fomentar a fragilidade nas relações humanas e na busca da emancipação humana, com as redes virtuais comunidades, famílias e grupos sociais se diluem na liquidez da estupidez, como apontada por Zigmunt Bauman.

A propagação da ideia do empoderamento de setores e indivíduos responde inteiramente a cultura da classe dominante. A classe trabalhadora, em toda a sua diversidade diante das novas tecnologias, atomiza-se com a propagação da negação das lutas de classes no processo de desenvolvimento da humanidade. Isto leva a muitos setores e indivíduos oprimidos e explorados secularmente a, inconscientemente, tornarem-se úteis aos que possuem o controle econômico e da política real.

Mauro Iasi faz uma análise da apatia das pessoas diante de tantas mortes – mais de 155 mil vidas perdidas, ele diz que tem receio de que futuramente quando por ventura vierem a analisar as ossadas das pessoas que viveram essa pandemia apareçam nelas um sinal, uma marca, um símbolo da tamanha falta de solidariedade e acrescenta que se nos perguntarmos como estamos nesse contexto de Covid e respondermos que estamos tristes, essa tristeza será um bom sinal ao enfretamento ao egoísmo e o individualismo.

Enfrentar a cultura da classe que detém o real poder exige a superação de valores e da moral burguesa, da superação do individualismo e egoísmo que grassam em nosso tempo. Exige desenvolver práticas verdadeiramente justas, coerentes e humanas, que construam redes humanas, solidárias e unitárias, capazes de forjar uma consciência que alimente o fogo da indignação, dignidade e da ousadia revolucionária para destruir o capitalismo, sistema putrefato que necessita ser superado.

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