Um governo militar a serviço dos bancos e do imperialismo



Autor: Pedro César Batista

Sem colocar um tanque nas ruas, o Exército e demais Forças Armadas assumiram efetivamente o governo do Brasil, com o general Braga Neto tornando-se o “presidente operacional”. Aproveitaram-se da inépcia de um provocador, miliciano e fascista, que, após 28 anos como deputado federal, surfou na onda anti-petista e contra as forças de esquerda, elegendo-se presidente da República. A FIESP, os latifundiários e os banqueiros inventaram o mensalão e a Lava Jato para remover do governo brasileiro os sociais democratas, pretendiam assumir novamente o controle das instituições, sem ter de seguir a política social liberal em curso, já que a crise estrutural do capitalismo exigia uma radicalização nas privatizações de setores estratégicos, ainda estatais e públicos para enfrentarem a crise do sistema.

Mesmo com o governo de Lula e Dilma, avalizados pelo capital financeiro monopolista, com quem formou uma aliança (José de Alencar e Michel Temer), que assegurou aos banqueiros e especuladores manter e ampliar as taxas de lucro, sem correr o risco de enfrentar reformas estruturais, que minimamente colocassem em risco o capital, as propriedades e a acumulação, a realização de pequenos avanços democráticos, a descoberta do pré-sal e a geopolítica comandada pelos EUA, animou a burguesia, orientada pelos EUA, a cassar Dilma Rousseff. Apesar de ser um golpe, foi dada uma aparência de legalidade. Em seguida veio a prisão de Lula - como se a justiça, enfim, fosse feita contra os “maiores corruptos da história”. Por fim, a eleição de um capitão miliciano, garantindo-se aprofundar a política neoliberal a serviço do capital internacional, com a formação de um governo para servir unicamente aos interesses de ricos, banqueiros e do imperialismo.

Com pouco mais de um ano no governo, o capitão nem ao menos tentou moldar a sua prática e discurso para aparentar uma possível mudança em sua trajetória, mesmo assim conseguiu, comandado por Paulo Guedes, fazer a reforma da previdência, retirar os direitos dos trabalhadores, atacar os sindicatos e criar as condições para privatizar os setores estratégicos da economia nacional. Mas a história é inesperada e cruel. Como um vento noroeste, veio o coronavírus, uma pandemia que colocou o planeta em guerra contra a contaminação, que tem provocado milhares de mortes diariamente em todos os continentes.

A incapacidade do presidente miliciano não lhe deu a lucidez necessária sobre o momento que o Brasil e o mundo passaram a viver. Em sua paranoia conseguiu criar atritos com governadores aliados, como o representante do grande capital, João Dória, do latifúndio, o fundador e ex-presidente da UDR, Ronaldo Caiado, e o nazista, que atira de helicóptero contra o povo, Wilson Witzel. Nunca deixou de atacar os nove governadores do nordeste e os setores que ele chama de esquerda, colocando democratas, progressistas, cristãos verdadeiros, socialistas e comunistas no mesmo balaio. Desde o momento que ele tomou posse, a imprensa não tem sido poupada, mesmo aquela que atuou para que ele chegasse onde está, sendo a única exceção as redes evangélicas e seus aliados da mídia, que propagam mentiras e sangue.

O miliciano foi contra governantes de todo o mundo, a orientação da Organização Mundial da Saúde – OMS e do seu ministro da Saúde, chegou ao sadismo de fazer achincalhe com a população, incentivando-a a não ter medo do que chamou de uma “gripezinha” e, em plena quarentena, em um domingo pela manhã, foi passear na periferia de Brasília. Tudo isso aumentou seu isolamento, levando-o a acatar o que os generais no governo, em número maior que dezenas, decidiram, que foi o seu enquadramento, ao imporem o general Costa Neto, ministro chefe da Casa Civil, como “presidente operacional”.

O Brasil, na segunda década do século XXI, depois de ter sido enganado pela burguesia entreguista, que utilizou uma imprensa a serviço da traição nacional, encontra-se, com um governo militar, que sem um voto, nem ter colocado um tanque nas ruas, nem fechar o parlamento, assumisse o controle do Estado.

Para completar o nebuloso momento nacional, as duas casas do parlamento federal, majoritariamente é composta de figuras que também representam os interesses do grande capital, atuam como serviçais e lacaios de quem defendem, os bancos, os especuladores, os latifundiários e os EUA. Com tudo isso acontecendo, onde estão os partidos e movimentos operários, camponeses e a juventude, que lutam em defesa da soberania nacional, pelos direitos e a justiça social?

Durante os governos Lula/Dilma, o que se verificou foi uma completa acomodação, com a cooptação de lideranças sindicais, populares e juvenis, que se tornaram correia de transmissão de políticas de governo, que abandonaram a formação política, organização e as lutas em defesa do fortalecimento das políticas de reforma agrária, da taxação das grandes fortunas, de uma comunicação comunitária, da auditoria da dívida pública e tantas reformas necessárias que foram engavetadas. O ex-governador Leonel Brizola costumava afirmar que após o cavalo passar arreado, caso não se tenha montado, será preciso esperar uma nova oportunidade na história. Foram 13 anos, o cavalo passou e não se fortaleceu a organização, consciência e unidade das classes produtoras, permanecendo tudo nas mãos das classes apropriadoras, que seguem no controle das riquezas, das leis e das instituições do Estado a serviço dos poderosos.

A pandemia do coronavírus nos obrigou ao isolamento, uma necessidade de sobrevivência para todas as pessoas, o que não quer dizer que as diferenças de classes deixarão de existir. Muito pelo contrário. Os proprietários de capital seguirão com acesso aos bens e serviços, inclusive médicos e sanitários, enquanto a grande massa, as camadas populares, os prestadores de serviços, os camponeses, operários e marginalizados seguirão sem acesso ao saneamento, a saúde e as condições adequadas para ficarem em quarentena.

O sadismo do governo do miliciano é tão grande que, mesmo após uma semana da aprovação de uma ajuda emergencial aos trabalhadores, nada de concreto ainda foi feito para que o auxílio possa ser viabilizado. Ao mesmo tempo, o capitão e o governo dos generais, apresentam a PEC 10/2020, que autoriza gastar mais de 1 trilhão de reais para ajudar os Bancos. Na mesma medida, inclui a dispensa de trabalhadores de seus empregos com a redução de seus salários.

As contradições estão visíveis, aos olhos de quem tiver olhos para ver. Quem deseja acreditar nas mentiras propagadas pelos agentes dos poderosos que o faça. Assim como, quem deseja ficar defendendo a repetição da velha política de conchavos e acordos dos de baixo com os de cima que o faça, mas tenha a tranquilidade e coragem de assumir que não é esquerda, mas efetivamente força auxiliar do capital.

O momento é difícil.

Espera-se para os próximos dias que o epicentro da pandemia do Covid-19 chegue ao Brasil. Será um momento de muita dor e dificuldades, os pobres e marginalizados serão as principais vítimas, porém ninguém estará livre de ser contaminado e ir a óbito. Cuidar-se, prevenindo-se adequadamente é uma necessidade de toda a sociedade. Somente os sádicos nazistas e estúpidos não compreendem esta obrigação coletiva. Significa, portanto, que o povo brasileiro, ao mesmo tempo que necessita ter todos os cuidados para evitar o contágio com o vírus fatal, precisa exigir a imediata aplicação do auxílio emergencial aos trabalhadores, como aprovada pelo Congresso nacional, deve buscar se preparar para o próximo momento e derrotar o novo Proer para salvar banqueiros e poderosos. Assim que a pandemia passar o governo dos generais, que ainda poderá ter na presidência, como rainha da Inglaterra, o capitão miliciano, seguirá aplicando sua cruel política de aprofundamento das privatizações, da retirada de direitos e de serviçais do imperialismo.

Somente com homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, conscientes e organizados, unidos e mobilizados, poderemos criar as condições para a superação deste momento de aprofundamento da exploração do capital. Para derrotar os saqueadores do trabalho, superar o sistema capitalista, único responsável pela miséria, exploração e destruição imposta ao meio ambiente é preciso ousadia, coragem e disposição. Nada virá dos céus ou de graça. É preciso coragem para construir um novo tempo.

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