Quem foi Zequinha Barreto



JOSÉ CAMPOS BARRETO (ZEQUINHA)

Nasceu em 2 de outubro de 1946, em Brotas de Macaúbas (BA), filho de José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto. Morto em 17 de setembro de 1971. Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Zequinha, como era chamado pela família, era o mais velho dos sete filhos. (Dossiê Ditadura, p. 276) O casal camponês morou por um tempo no povoado do Pé do Morro, mas em 1951 mudaram-se com os filhos para o Buriti Cristalino. Eles mantinham um padrão de vida simples, possuíam uma loja de tecidos ao lado de casa, plantavam na roça, cuidavam do gado e seus sete filhos ajudavam no afazeres. Zequinha, Olderico, Ana, Maria Dolores, Otoniel, Ednalva e Olival foram criados dentro de uma educação muito rigorosa, seus pais eram católicos fervorosos, exigiam perfeição nas tarefas por acreditarem que era a melhor forma de torná-los cidadãos de bem. Zequinha, ao completar 12 anos, foi enviado para um seminário em Garanhuns – PE. No primeiro ano de estudos, dona Nair recebeu uma carta do diretor, a qual parabenizava, ela e seu marido, pela excelente formação de Zequinha. Ele foi submetido a um teste para definir em que grau iria entrar na escola, acabou tirando a melhor nota da turma, o que gerou grande satisfação. Ele tinha férias do seminário uma vez por ano. No mês de dezembro retornava ao Buriti e a família Barreto ficava completa. Passou dois anos em Garanhuns e depois foi transferido para Campina Grande, na Paraíba. Em 1964, quando retornou do seminário, disse que não queria ser padre. A partir daí a opção foi ir para São Paulo trabalhar, pois lá não tinha muitas opções para trabalhar. Já com 18 anos, foi servir ao Exército.

Quando terminou o tempo de serviço obrigatório e Zequinha foi dispensado, apesar do seu excelente desempenho. O Brasil já estava em plena Ditadura e ele foi buscar emprego nas fábricas. Em Osasco, havia um grupo que se reunia na Vila Yolanda para discutir as dificuldades dos trabalhadores. Os diálogos entravam pela madrugada e ali estavam os amigos: Zequinha Barreto, Antonio Roberto Espinosa, Osni Gomes, João Joaquim da Silva, Roque Aparecido da Silva e o irmão João Domingues da Silva, entre outros. O papo entre camaradas era pautado pelas notícias do dia, pela viola de Zequinha, e em qualquer período o assunto era política. Os trabalhadores de Osasco, assim como em todo o Brasil, viram seus sonhos de mudança devidamente ameaçados pelo regime ditatorial quando os sindicatos foram tomados. As eleições para presidência sindical eram compostas pelos interventores designados pelo regime. Tudo uma farsa. Enquanto isso, o arrocho salarial atormentava os operários e as lideranças envolvidas nas causas trabalhistas foram violentamente perseguidas. Era preciso arranjar uma maneira de colocar um novo representante, alguém que iria comprometer-se não só com a política salarial, pois a situação se agravava, mas também com outras reformas a serem feitas. Para melhorar as condições dos operários, era preciso o enfrentamento dos “patrões”. Ainda em 65 começaram as primeiras lutas contra o “arrocho”.

O ano de 1968 foi um ano marcante e decisivo para os trabalhadores que estavam vivendo na pele o arrocho salarial imposto pela ditadura. O 1º de Maio de 1968 organizado pelo movimento operário e estudantil de Osasco e São Paulo gerou impulso para a grande greve de 1968, a Greve da Cobrasma. Jarbas Passarinho disse aos jornais: “A Cobrasma está sob controle. José Campos Barreto foi preso”. Ele permaneceu 98 dias preso no DOPS-SP, passando os últimos dias no presídio do Carandiru e ao sair passou a viver clandestinamente. Foi torturado durante muitos dias, a polícia quis saber o nome dos organizadores da greve, mas ele nada respondia. Estando à frente da manifestação, Barreto tornou-se um prisioneiro valioso, possivelmente, a coisa que o exército mais desejava, era isolá-lo da sociedade. Pois, ao colocar-se à frente das negociações, chamou a atenção de todos. Os militares o consideraram o “elemento mais ativo na greve de Osasco”, como está descrito nos documentos emitidos pelo quartel general do II exército.

O exército brasileiro encomendou a Operação Pajussara. Foi assim denominada pelo líder, o então major Nilton Albuquerque Cerqueira, chefe da 2ª Seção do Exército na Bahia, em homenagem à sua praia favorita de Alagoas. Ele e Sérgio Paranhos Fleury, chefe do esquadrão da morte de São Paulo, foram os principais cabeças da operação.

Em 28 de agosto de 1971, a Operação Pajussara, sob o comando do DOI-CODI da 6ª Região Militar, invadiu o povoado do Buriti Cristalino, na região de Brotas de Macaúbas. Na casa de Zequinha, mataram um de seus irmãos, Otoniel, e feriram Olderico. Seu pai, José de Araújo Barreto, de 64 anos, foi preso e torturado. Zequinha e Lamarca ouviram os tiros em Buriti Cristalino, desmontaram o acampamento no sertão e fugiram para dentro da mata. Caminharam, durante vários dias, cerca de 300 quilômetros, em fuga. Fracos e doentes, eles procuraram ajuda e alimentação nas casas dos camponeses. Zequinha chegou a ser visto pelos moradores carregando Lamarca nos ombros, pois estava doente. Lamarca e José Campos Barreto foram encontrados descansando sob uma árvore, na região conhecida como Pintada. Estavam fracos, desidratados, doentes e sem força pela falta de alimentação e caminhada de muitos dias no agreste. Segundo o relatório da Operação Pajussara, […] foi fácil e rápido exterminá-los: Zequinha despertou com o barulho da aproximação dos agentes e acordou Lamarca. Tentou correr, mas foi metralhado por um soldado, gritando, antes de cair morto: Abaixo a ditadura! Os agentes estabeleceram um pequeno diálogo com Lamarca, já ferido, e logo também o executaram com rajadas.

Texto retirado do site: http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/mortos-desaparecidos/jose-campos-barreto-zequinha

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