É preciso unidade para cortar a cabeça da serpente.



Pedro César Batista

Hitler conseguiu reunir artistas, professores, médicos, poetas, advogados, cientistas, jovens, mulheres, intelectuais e parte significativa da população alemã para apoiar a invasão e anexação de outras nações, o extermínio de milhões de crianças, mulheres e homens. Todos acreditaram na superioridade da raça ariana. Para atender os objetivos os nazistas acreditavam que precisava manter apenas a raça pura, eliminar a sub-raça, formada por quem não fosse ariano, ciganos, judeus, comunistas e implantar o “Paraíso soviético”, pois confiavam que as terras do leste europeu lhes pertenciam.

Antes de Hitler e os nazistas assumirem o poder (1933), a Alemanha vivenciou a República de Weimar, criada após a derrota na I Guerra Mundial, em 1919, e controlada pelo Partido Social Democrata Alemão, que traiu o povo, não reforçou a organização da classe trabalhadora e a luta em defesa da revolução socialista. Chegou a determinar o assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, tudo para combater e derrotar a revolução socialista alemã em 1919. Em seguida o que se viu foi a divisão entre os trabalhadores, com defesas de posições sociais democratas, socialistas e comunistas, as forças atuando de forma dispersa e duras disputa entre si. Aproveitando-se disso, Hitler e seu partido desenvolveram uma cultura baseada no “egoísmo ilimitado”, consumismo, individualismo, organização de milícias e uma pesada propaganda comandada por Goebbels em escolas, igrejas, universidades e em toda a sociedade alemã.

No primeiro ano de governo, Hitler realizou cruel perseguição a quem acusava de ser uma sub-raça, imediatamente atacou os comunistas, chamados de “judeus bolcheviques”, interviu e fechou sindicatos, prendeu e iniciou uma matança que continuou até a sua derrota. Sua campanha foi sustentada na defesa da pátria pura (Volk), baseada em valores morais, defesa da família, formação profissional e militar. A SS, milícia estatal, prendia, julgava, condenava e matava para garantir os projetos genocidas. Juristas e intelectuais elaboraram um arcabouço jurídico para garantir a legalidade do extermínio em massa e invasões a outros povos.

Durante a invasão da União Soviética, em 1941, formaram-se equipes de professores, médicos, enfermeiras e assistentes sociais para fazer a triagem entre quem deveria viver ou morrer. Comandados pelos agentes da SS, os nazistas sequestraram mais de 200 mil crianças soviéticas que tinham traços arianos, colocando em campos de concentração ou matando seus familiares e as outras crianças que não correspondiam à raça pura e aos seus interesses econômicos e políticos. Entre 1941 e 1945, Hitler e os nazistas dizimaram entre 30 milhões e 40 milhões de soviéticos. Por fim, a URSS derrotou Hitler, ocupou Berlim, libertou a Europa e o mundo de assassinos e ladrões, comandados pelo partido nazista.

O perigo, entretanto, voltou. Decorridos 81 anos desde a invasão da Polônia pelos nazistas, um país no Atlântico Sul, o Brasil, o último a abolir legalmente a escravidão, sem nunca ter assumido sua dívida histórica por esta prática, nem ter reconhecido o genocídio praticado contra os povos indígenas e negros, chega ao governo nacional um grupo com a mesma prática nazista, baseada no discurso contra os comunistas, gays, indígenas, mulheres e negros, sustentada na defesa da moralidade e da religião. Sustenta-se por meio de setores neopentecostais, fortalece o “egoísmo ilimitado”, a crença na meritocracia, desenvolve a formação de milícias e propaga cotidianamente inverdades. Este grupo tem como base social os mesmos setores que o nazismo possuiu: forças militares, religiosas, jornalistas reacionários e a burguesia antinacional e antipovo, que saqueia o país desde a chegada dos portugueses, em 1500. Para ganharem apoio social aplicam a mesma política de Goebbels na comunicação.

Assim como na Alemanha da década de 1920, período que antecedeu a chegada dos nazistas ao poder, no Brasil, as forças populares, socialistas e revolucionárias atuam como se fossem inimigas, adversárias, disputando espaço em torno de seus interesses específicos, sem combater, com a dureza necessária, as crias nazistas que espalham veneno e elegeram um presidente tão caricato quanto foi Hitler. Apesar de tudo, as forças sociais que defendem uma transformação da sociedade, no lugar de criarem células de um único corpo para combater os genocidas, atuar na defesa da vida, dos direitos e da dignidade humana, forjando a unidade e organização necessárias para cortar definitivamente a cabeça da serpente, atuam como se fossem adversárias, buscam a hegemonia e protagonismo na sociedade, priorizando a ocupação de espaço dentro do Estado, sem apontar a necessidade de sua ruptura, o que representa, dar fim de uma vez por todas, derrotar definitivamente os lacaios do grande capital imperialista e criar as condições para superar este momento difícil que se atravessa.

Para agravar o perigo que a humanidade atravessa no atual momento histórico, os EUA são dirigidos por um presidente herdeiro de riquezas da escravidão, admirador da Ku Klux Kan e seguidor das piores e maléficas práticas na relação humana, atacando povos covardemente, desenvolvendo uma campanha midiática de guerra e sustentada em mentiras. Assim foi Hitler. Trump é um provocador fascista e tem armas poderosas.

Cortar a cabeça da serpente, que está assanhada, com viço, espalhando seu veneno, sustentada por intelectuais, artistas, professores, parlamentares e reacionários de todos os tipos, exige que se construa uma unidade popular, baseada nos interesses da classe trabalhadora e que defenda a vida e a dignidade humana. Colocar abaixo o governo que desenvolve as mesmas práticas nazistas é uma obrigação. Permitir que assassinos sádicos sigam seu projeto é suicídio, significa alimentar genocidas.

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