A busca da hegemonia

É comum ouvir a pergunta sobre qual organização está chamando determinada atividade de luta política dos setores populares e da classe trabalhadora. De acordo com o grupo responsável pela organização se decide a participação ou não na ação.

Ao mesmo tempo aprofunda-se o fosso existente entre os mais ricos e mais pobres. O elevado nível de mulheres e homens desempregados e subempregados comprova que a política econômica neoliberal, aplicada pelo governo Bolsonaro, está dando certo, deixando evidente a quem serve, possibilitando aos bancos lucros cada vez maiores enquanto a miséria cresce vertiginosamente.

Ainda assim, a classe trabalhadora e os setores mais vulneráveis e violentados com a política em curso não se unem, nem se articulam para derrotar a destruição das conquistas sociais históricas praticadas ou para colocar abaixo o governo dos poderosos e ricos.

Quando se pergunta quem está à frente do movimento busca-se saber apenas se quem está organizando poderá disputar espaço político entre as classes trabalhadoras e camadas populares. A pergunta comprova a falta de clareza política e histórica no difícil momento que o Brasil e o mundo atravessam.

Se os ricos ficam mais ricos, aperfeiçoam-se os meios e mecanismos para roubar o trabalho produzido, cada vez em maior escala, diante da alta tecnologia, assim como a exploração dos recursos naturais e dos serviços públicos, que atacam vorazmente para que o capital possa ter acesso e explorar livre e impunemente.

Se as ações dos poderosos capitalistas são articuladas com governos servis, meios de comunicação cínicos e mentirosos uníssonos, poder judiciário tendencioso e criminoso, forças policiais e militares treinadas para matar o povo, a constante criminalização das lutas da classe trabalhadora, o controle centralizado e absoluto do capital internacional sobre o sistema financeiro, a terra, a produção, a comunicação, os serviços e a apropriação dos lucros, levando a imensa maioria das pessoas ao completo abandono e dispersão.

Ainda assim, segue a pergunta: quem está chamando? No lugar de se perguntar qual a luta, a bandeira que se defende, em defesa de que se combate, busca-se saber quem tomou a iniciativa. Assim age parte significativa dos movimentos sindicais, camponeses, intelectuais e identitários. Chega-se a vetar a participação de quem não se quer presente. Se tal organização for a outra se retira; não se permite que tal organização participe; não se une para enfrentar o inimigo comum.

Escuta-se frequentemente que se não for meu partido ou meu grupo a frente não apoiaremos, não contem com apoio. Uma autofágica busca por hegemonia e espaço, seja para conseguir votos, ganhar um sindicato, um centro acadêmico, ter o controle do microfone.

A superação desta prática oportunista e divisionista se torna cada dia mais necessária. O inimigo capitalista, em sua fase imperialista, para preservar a hegemonia, incentiva e investe bilhões de dólares para promover a divisão, fragmentar e atomizar as organizações e lutas da classe trabalhadora. Setores populares e de esquerda terminam por se alimentar da orientação burguesa, dizendo-se progressista, moderno ou pós-moderno. Atuam como verdadeiras forças quinta-colunas.

Ninguém precisa inventar a roda, a história está aí para nos ensinar a necessidade vital da unidade da classe trabalhadora. O inimigo sabe disso, por isso segue incentivando a pergunta: quem está puxando?

Pedro César Batista

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