Não há espaço para vacilos e ingenuidades na luta de classes



Pedro César Batista

Defender-se dos ataques do imperialismo e seus lacaios é uma obrigação

A defesa e a luta organizada das classes exploradas é o que assegura o avanço social ao longo da história da humanidade. Para impedir e retirar as conquistas obtidas pelas classes trabalhadoras, manter o julgo e a dominação, o opressor nunca economizou em sua desumanidade, utiliza vastos recursos militares e jurídicos para garantir que os privilegiados sigam cada vez mais poderosos e possam usufruir do avanço tecnológico e científico, enquanto as grandes massas produtoras enfrentam a pobreza, a miséria, o desemprego e o abandono estatal.

Para possuir uma vida digna, ter o direito de se organizarem, fazer greves, trabalhar uma jornada produtiva que não os extenuem, combater a exploração e a contínua prática de assassinatos, prisões e condenações penais impostas pela burguesia, por meio do aparato jurídico-estatal, assegurado por normas injustas e opressoras, homens e mulheres, filhos e filhas do proletariado, da classe trabalhadora do campo e da cidade, têm aprendido também a desenvolver suas táticas e estratégias para enfrentar o opressor.



Essa contradição entre as classes faz parte da história das sociedades. Nunca foi diferente. De um lado a quem detém o controle dos meios de produção, apropria-se das riquezas e dirige o Estado, do outro as classes produtivas, trabalhadoras e exploradas, que vivem da venda de seu trabalho, manual ou intelectual.

Na fase atual, a burguesia controla o capital transnacional e imperialista, com a transformação dos Estados em aparatos a serviço da acumulação das riquezas pelos capitalistas, que colocam nos governos verdadeiros gerentes para lhes servir. Assim, a burguesia faz normas, leis e propaga discursos que justificam que os poderosos têm o direito de explorar a imensa maioria da população, a qual é educada, nas escolas, universidades, igrejas e pelos meios de comunicação para internalizar que esta contradição é natural e aceitável. Bombardeiam um discurso pelos meios de comunicação, usando seus especialistas e lacaios, os quais fundamentam do porquê alguns podem possuir o controle de tudo e possuir riquezas cada vez maiores; ao mesmo tempo que a imensa maioria da população nada possui, a não ser sua capacidade produtiva para vender a um patrão. Dizem que é preciso muito esforço pessoal, sorte, acreditar em uma força divina, ser melhor que os demais e que os poderosos trabalharam mais (sic) para se tornarem ricos. Cria-se um fetiche em torno do consumo, da riqueza e do luxo.



Por outro lado, os fatos comprovam que a riqueza é resultado da escravidão, exploração e o roubo do trabalho desenvolvido pela classe trabalhadora. A herança tem sido um dos meios para garantir a preservação das fortunas nas mãos dos mesmos exploradores de sempre, enquanto as dificuldades para sobreviver, a miséria e a pobreza têm asseguradas a sua continuidade com as normas jurídicas, impostas pelo Estado e justificadas pelos propagandistas dos poderosos, como necessárias.

Infelizmente, como disse em outro texto (http://www.patrialatina.com.br/a-falta-de-consciencia-de-classe-retarda-a-derrota-da-burguesia-e-do-imperialismo/?fbclid=IwAR1uXFhaCubZ5cyfwWt38vNfXGV0bF7C2CtEHe5j6dUpjIHfWsTPBOCI8WE), a falta de consciência histórica e de classe, leva a amplos setores das classes trabalhadoras a acreditarem e replicarem o discurso mentiroso e criminoso propagado pela burguesia e seus serviçais. Mas não apenas isso. Vejamos.

A falta de uma direção política revolucionária

Lula, a principal liderança brasileira na atualidade, costumava afirmar, quando perguntado se era de esquerda, que era metalúrgico, assumiu, portanto, sua posição fabril, não se posicionando ideologicamente. Também disse durante o ato público, no momento de sua prisão em São Bernardo do Campo, - após sua condenação em processo dirigido por Sérgio Moro, responsável por uma das maiores farsas jurídicas brasileira-, que se quisesse fazer a revolução teria feito um partido revolucionário, reforçou ainda, sua confiança nas instituições e na justiça brasileira. Lula foi sincero, diferente de muitos que se dizem revolucionários e vivem para usufruir migalhas do Estado e da burguesia.



Esta posição de confiança nas instituições estatais tem sido replicada e defendida por muitos dirigentes sindicais, populares e partidários no espectro da esquerda brasileira. O mesmo ocorreu após o golpe civil-militar de 1964, quando o partido mais à esquerda no Brasil, o PCB, dizia que a ditadura logo cairia, não seria duradoura e se deveria reforçar a democracia. Durante a cassação de Dilma Rousseff, em 2016, existiram, inclusive, setores, que se autodeclararam de esquerda, que afirmaram que não ocorreu um golpe de Estado e fizeram coro em apoio à Operação Lava Jato.

O que tem ocorrido nas últimas décadas é a priorização absoluta da participação política institucional. Foi completamente abandonado o trabalho de organização e conscientização revolucionária da classe trabalhadora. Quantas lideranças oriundas dos movimentos sindicais, camponeses, estudantis ou do chamado movimentos identitários dedicam-se para se tornar parlamentares ou ocupar algum espaço no executivo? Ao obterem um mandato eletivo se tornam gestores do Estado burguês, aplicam inteiramente as normas existentes, que privilegiam o capital, ou passam a legislar para aperfeiçoar os instrumentos jurídicos do Estado opressor. Aprimoram os mecanismos jurídicos que garantem a democracia burguesa, sem denunciá-la ou buscar criar as condições para a sua superação pelo Poder Popular e Revolucionário.

Verifica-se uma prática conciliadora e de acomodação de interesses de classes de muitos dirigentes de esquerda, o que representa preservar o sistema capitalista e assegurar o controle do Estado nas mãos da burguesia. Estes dirigentes não radicalizam suas ações, não organizam greves, passeatas, ocupações ou movimentos mais radicais, passam a não defender a transformação da sociedade para o socialismo, tornando-se propagandista do aperfeiçoamento do capitalismo que, segundo o discurso da burguesia e seus aliados, poderia ou pode ser humanizado.

Negar a luta de classes tem sido comum. Diz-se que os tempos são outros, que agora as categorias ligadas à produção não são mais fabris, que integram outras categorias profissionais, que produzem sem a necessidade de estar em fábricas ou diretamente na agricultura, pois foram substituídos tecnologia. Propaga-se conceitos que dizem superar as contradições das classes sociais, como o empreendedorismo, a meritocracia e a chamada uberização, que atomiza a classe trabalhadora e assegura aos detentores do capital que tenham uma maior taxa de lucro sobre o trabalho. Há ainda setores sociais que defendem suas bandeiras próprias, não se consideram parte de uma classe explorada pelo capital, menos ainda do proletariado. Tudo isso é reforçado por muitos dirigentes e militantes que se dizem de esquerda. Uma negação do desenvolvimento dialético da história.



Se dedicarmos um olhar mais microscópico para a história brasileira, observamos que tem sido comum a realização de acordos entre o opressor e as lideranças oriundas das classes exploradas. Há uma conciliação de classe e busca de consenso com o inimigo, sem questionamentos das causas das desigualdades e injustiças sociais, que permanecem, no máximo realizando mudanças superficiais, sem mexer nas estruturas econômicas perversas existentes. Isso leva a uma acomodação das massas e a sua alienação política. Provoca a desmobilização, desunião e desorganização dos setores populares e da classe trabalhadora que se iludem com o discurso pretensamente moderno ou mesmo pós-moderno. Se esta prática é ingenuidade ou traição é outra história, que será resultado de outra avaliação, que agora não está em pauta. Entretanto, identificar os setores da esquerda que buscam a conciliação separando-os de quem efetivamente trabalha para organizar a revolução socialista é uma necessidade. Haverá momentos, como o atual, que todas as forças, incluindo setores liberais progressistas deverão estar juntos com os revolucionários para derrotar o fascismo, entretanto, isto não quer dizer que as organizações e militantes que defendam a ruptura revolucionária devam abandonar o estudo, a organização e a preparação estratégica para o enfrentamento. O que temos visto é a priorização de acordos dentro das normas estabelecidas pela classe dominante, seja participando sem nenhuma criticidade de processos eleitorais regulares, integrando e gerindo as esferas estatais, seja preservando e incentivando a cordialidade entre o algoz e a vítima, o que garante ao opressor a continuidade da exploração. Obviamente, nunca se deve deixar de usar todos os meios para o combate à burguesia. Participar das eleições é necessário, eleger parlamentares que façam da estrutura parlamentar e seus meios disponíveis ferramentas para solapar, fragilizar e desestruturar o Estado, que tenham a clareza para fazer a constante denúncia dos crimes da burguesia e de suas normas, que tem a finalidade de preservar a sociedade de classes. Ao atuar dentro dos mecanismos estatais deve-se ter a finalidade de arrancar conquistas sociais e econômicas que elevem a moral da classe trabalhadora, mas nunca de amortecer a sua disposição de luta e consciência revolucionária.

A tecnologia tem servido para aumentar a exploração do trabalho, com a total desregulamentação das normas conquistadas ao longo da história das lutas das classes produtoras. A tecnologia permitiu que se chegasse ao nível em que milhões de trabalhadores estão ligados à prestação de serviços ou à produção sem possuir nenhum vínculo jurídico ou garantias assistenciais com o proprietário de aplicativos eletrônicos (meios de apropriação da mais valia), de empresas transnacionais ou do sistema financeiro. Em nome da tecnologia e de uma pseudomodernidade foi incutido nas mentes de profissionais que sem vínculos empregatícios se tornam empreendedores, proprietários e livres de patrões, mesmo sendo controlados plenamente por aparelhos celulares, que indicam cada passo, momento ou valores que deverão ter abatidos a taxa de mais valia pelo detentor de aplicativos ou meios de produção.

O aumento da exploração do trabalho e da concentração de riquezas com o desenvolvimento tecnológico, no lugar de reforçar à luta dos trabalhadores, tem possibilitado a divisão do proletariado e o avanço das forças mais reacionárias a serviço da exploração do capital, o fascismo. Negar a luta de classes, escamotear a exploração cruel do trabalho e fazer acordos com a burguesia engana, confunde e divide a classe trabalhadora, que deveria estar unida, consciente e organizada para seguir sua gloriosa jornada em defesa de direitos, da dignidade e da superação do atual sistema de exploração por uma nova sociedade, socialista e que tenha um Estado sob o controle dos trabalhadores, com a estatização de todos os meios de produção, serviços públicos e os recursos naturais, que precisam estar a serviço de quem produz, trabalha e assegure a satisfação de todas as necessidades das pessoas, dando um basta à exploração burguesa.

Levar a essa condição exige uma direção revolucionária, que aponte com firmeza e clareza o rumo para derrotar definitivamente a exploração da burguesia sobre as classes trabalhadoras e populares.



Fica evidente que falta ao movimento da classe trabalhadora e do proletariado brasileiro uma direção revolucionária, capaz de apontar um caminho que unifique o combate ao opressor. Uma direção que faça uma análise crítica revolucionária da história nacional, criando as condições subjetivas – consciência, unidade e organização, que possibilitem o acúmulo de forças para avançar no combate ao capital e ao imperialismo.

Atomização e divisão no seio da classe trabalhadora



Há, ainda, no atual momento, setores populares e pequeno-burgueses que se estruturam como identitários, sustentando a necessidade da alteridade e sororidade baseada no gênero, orientação sexual ou cor. Chega-se a defender o que se denominou lugar de fala, quando uma pessoa que não integre o referido setor não tem o direito de opinar sobre temas relacionados ao grupo social, o que caberia apenas às pessoas ligadas a identidade coletiva. Majoritariamente esses movimentos têm em comum uma posição de que a questão não é de classe. Muitos não combatem a burguesia, nem o capitalismo, nem a exploração de uma classe sobre a outra, defendem o empoderamento de indivíduos ou setores sociais.

Os movimentos identitários sustentam-se a partir da realidade das pessoas de um grupo social, especialmente a partir das condições do indivíduo, tem-se como base teórica a realidade objetiva das violências enfrentadas a partir do segmento, sem levar em consideração a questão de classe social. Estes segmentos sentem-se como únicos que podem falar das condições enfrentadas. Atuam de forma atomizada, em coletivos que defendem bandeiras pontuais e específicas, sem levar em conta as contradições relacionadas à produção e distribuição de riquezas na sociedade capitalista, assim como não se faz uma análise do processo de desenvolvimento social e das conquistas da classe trabalhadora.

A partir destas posições criou-se e se propagou um pensamento que tem como base o aperfeiçoamento do sistema capitalista, com a defesa da satisfação e dos direitos apenas desses segmentos. Chega-se a considerar que as pessoas destes segmentos que ascenderem socialmente foram empoderadas, vitoriosas e ultrapassaram as barreiras impostas pelo sistema. Não se leva em conta que algumas destas pessoas ao se “empoderarem” se tornaram integrantes ou instrumentos a serviço da burguesia.

É como a questão do meio ambiente. O capitalismo, seu modo de produção, distribuição e consumo tem causado visíveis e sentidas mudanças climáticas, que são enfrentadas em todo o planeta. Porém há parte dos ambientalistas que nada discutem em relação ao modo de produção capitalista, como se o sistema não tivesse responsabilidade pelos riscos existentes do desaparecimento de inúmeras espécies, inclusive a humana. Defender o meio ambiente e que possa ser usado de forma sustentável e que garanta uma vida digna a gerações futuras exige debater a forma de produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços.

Se os meios de produção (terra, indústria e tecnologia) e a riqueza produzida pela classe trabalhadora é concentrada nas mãos de um número muito reduzido de pessoas, as quais não trabalham e não produzem, mas controlam todas as normas jurídicas e políticas, as forças militares e definem como se dá a distribuição da riqueza, significa que todas as pessoas que vivem do trabalho compõem o proletariado, pois vivem da venda de seu trabalho, manual ou intelectual. Portanto, o que define as contradições sociais não é o gênero, a cor ou orientação sexual, mas a propriedade dos meios de produção e apropriação das riquezas produzidas.



É preciso combater a relação injusta e desigual, mantida por meio da propagação de uma ideologia que sustenta a exploração da grande massa, iludindo-a que um dia poderá fazer parte desta minoria, cada vez mais insignificante. Atuar isoladamente enquanto segmentos definidos pela cor, gênero ou orientação sexual somente reproduz a estratégia da burguesia em atomizar as ações e lutas sociais. Como diz um velho ditado, dividir para governar.



Dessa forma, as mulheres, por exemplo, precisam fortalecer suas lutas específicas contra o machismo e o patriarcado, mas tendo claro que estas lutas integram uma luta geral e maior em busca da verdadeira emancipação e da dignidade humana, que somente será conquistada com a superação da sociedade de classes, burguesa e exploradora, em que a burguesia faz do trabalho de mulheres e homens apenas uma mercadoria para comprar e manter seus privilégios, garantidas pelas normas jurídicas do Estado burguês. O povo negro, a mesma consciência de classe ter, já que por séculos foi e são escravos do opressor e tem sofrido secularmente uma cruel violência, lotando as prisões e sofrendo a violência policial, que assassina diariamente jovens negros e pobres nas periferias. O mesmo para a população LGBTI, que enfrenta o preconceito, a violência e assassinatos, enquanto pobres e negros. É necessário a unidade e organização de todas as pessoas, independentemente de qualquer diferença, devendo ter com condição fundamental integrar a mesma classe social, que sofre o roubo de seu trabalho, o ataque a seus sonhos e o impedimento de viver dignamente.

O que a burguesia planeja e tem conseguido é que categorias profissionais, segmentos sociais e organizações civis, como os citados anteriormente, além dos intelectuais, soldados, marinheiros e camponeses não adquiram a consciência de classe. Os intelectuais, p. ex., quando não se posicionam claramente ao lado dos explorados passam a ser força de sustentação ao capital, enquanto os soldados e marinheiros acabam apontando suas armas contra os seus irmãos e irmãs de classe, contra o seu próprio povo. Sem a compressão de que a unidade e organização das forças produtivas, que trabalham na produção intelectual ou manual, no campo ou na cidade, a burguesia seguirá manipulando e dividindo a classe trabalhadora. Ser de esquerda representa combater com convicção e firmeza a relação de exploração e dominação da burguesia sobre a massa da população, construir uma unidade de aço, capaz de dar às condições necessárias para fazer o novo mundo nascer. Propagar que é possível humanizar e aperfeiçoar o capitalismo é querer tapar o sol com a peneira. Somente a revolução socialista, com uma direção firme e revolucionária será efetivada a plenitude da emancipação humana.

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