Uma semana na Venezuela e o Foro de São Paulo – Parte I



(Pedro César Batista) O encontro do XXV Foro de São Paulo, ocorrido entre 25 e 29 de julho, em Caracas, Venezuela, mostrou a disposição de centenas de militantes e organizações democráticas, progressistas e da esquerda da América Latina, Caribe e de todos os continentes na busca por um mundo de justiça, igualdade e de paz. Diferente das mentiras propagadas pelos EUA e seus lacaios, o Foro foi um momento de unidade e força contra a opressão, exploração, ameaças e ataques do imperialismo, reafirmou a defesa da democracia, da vida, da natureza, do respeito à diversidade cultural e étnica, da solidariedade e o apoio aos venezuelanos, cubanos, nicaraguenses, bolivianos e todos os povos que ousam trilhar um caminho na construção da liberdade, independência, dignidade e da soberania. O Foro disse de forma uníssona que exige a liberdade de todos os presos políticos do continente, com destaque ao ex-presidente Lula, preso em uma ação orquestrada a partir de Washington.

Poder participar do encontro, representando o Comitê General Abreu e Lima em Solidariedade à Venezuela, ao lado de mais três camaradas, foi um grande privilégio. Pela primeira vez pisei no sagrado solo da terra de Bolívar, Chávez e Maduro.

Ressaltarei dois aspectos, a Venezuela e o XXV FSP, em duas partes. Agora falarei sobre a situação neste país irmão. Na segunda parte farei uma síntese sobre a grandiosidade do Foro de São Paulo.

A Venezuela e a herança de Simon Bolívar e Hugo Chávez<
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Durante o voo entre o Panamá e Caracas conversei com duas senhoras venezuelanas vindas dos EUA. Uma delas disse-me que “era preciso castigar o país, até conseguir tirar um presidente que não lhes representava”. Por outro lado, tive a alegria de viajar, nesse trecho, ao lado de um engenheiro de petróleo, que vinha de Beijing, China, onde havia ficado trinta dias, e dizia com alegria ao voltar para sua pátria: “Estamos superando todos os ataques dos traidores e vamos seguir avançando rumo ao socialismo”.

Fiquei uma semana em Caracas. Convivi com centenas de pessoas de aproximadamente 100 países, mas também convivi com o povo venezuelano. Entre o hotel, onde fiquei hospedado, e o local de realização do XXV Foro de São Paulo, bem no centro da cidade, fiz o trajeto, na maioria das vezes, caminhando. Cruzei ruas e avenidas com o povo que circulava. Entrei nas padarias, tomei café e conversei com populares, comerciantes e trabalhadores. O que vi, conheci e ouvi foi a voz de um povo, que apesar dos ataques, vive uma vida normal em uma cidade como outra qualquer do planeta. As pessoas saindo cedo para o trabalho, fazendo compras, divertindo-se em bares, lotando o metrô. Que é gratuito, no final da tarde, com a Estação Belas Artes repleta e com o alarido de jovens e idosos, homens e mulheres retornando para seus lares.

No caminho que fazia diariamente, encontrei padarias, farmácias, mercadinhos, lojas de serviços, bancas de verduras, frutas, artesanatos, discos e livros. Não havia muitos produtos, muitas prateleiras vazias, ainda assim lá estavam os principais itens de consumo. Em conversas com ambulantes era evidente o apoio ao processo revolucionário, especialmente dos vendedores de livros que me falaram da herança cultural de Simon Bolívar e da importância de Hugo Chávez para a retomada do sonho de liberdade e independência, iniciado em 1998 e a seguir com a Assembleia Constituinte, que garantiu uma nova ordem sustentada no Poder Popular, nas missões e Comunas por todo o país.

No final da tarde e início da noite de sexta feira, 26, encontrei nas calçadas e mesas dos bares, ruas, praças e por onde passava as pessoas tomando cervejas, rum ou outras bebidas, em um grande congraçamento. A noite apenas começava, trazia o prazer e a alegria, como ocorre em qualquer lugar do mundo em uma noite que começa o fim de semana.



Claro, vi dificuldades. Muitas, aliás. “Estamos enfrentando agressões e bloqueios contínuos”, ouvi de populares. Em alguns comércios são poucos os produtos expostos, porém nas prateleiras estão os principais itens para a alimentação, higiene, lazer, saúde e a garantia do atendimento pleno às necessidades humanas. Infelizmente, há falta de alguns produtos, os quais dependem de insumos controlados pelos velhos oligarcas e os EUA, que sabotam e impedem o acesso, seja com o bloqueio ou com preços elevados, tornando inacessível o acesso. Porém, os preços dos produtos disponíveis, comparado com os preços no Brasil, são muito baixos. O litro da gasolina, por exemplo, custa menos 0,10 centavos de real. Um preço inimaginável para o brasileiro. O pão também custa o preço de centavos de real.

Importante ressaltar, que nesses 7 dias em Caracas, não encontrei ou vi pedintes, miseráveis ou crianças nas ruas. Observei alguns grupos de alcoólatras, mas o que estamos a ver nas cidades brasileiras, por todos os lados, a grande quantidade de miseráveis, apesar das notícias da imprensa, não vi na capital venezuelana. De acordo com as pessoas e o Governo, toda a população que tem necessidade recebe uma cesta de alimentos, que atende a necessidade alimentar das famílias.

O êxodo migratório se dá nas fronteiras do país, onde há uma maior propaganda dos governos de países vizinhos, que executam a política dos EUA, assim como os oligarcas têm maior influência, provocando maiores dificuldades de itens e serviços para a população. Porém é importante destacar que vivem na Venezuela mais de 5 milhões de colombianos, que saíram desse país ao longo dos anos devido à guerra entre os paramilitares, o governo e a guerrilha, o que não alterou após o acordo de paz na Colômbia.

O maior problema que identifiquei foi a falta de notas do Bolívar, a moeda do país. Os pagamentos no comércio são feitos, quase em sua totalidade, por cartão de débito ou crédito. Falta dinheiro em espécie, entretanto isso não impede a realização de vendas e compras de produtos e serviços pelo comércio da cidade. Fiz o câmbio do dólar que levei, na média de U$ 1 por B$ 10.000. Com B$ 12.000 (doze mil bolívares) tomava uma cerveja, ou por B$ 5.000 (cinco mil bolívares) um café, em reais ao valor de R$ 4 e R$2, respectivamente. Pude saborear a comida venezuelana tranquilamente em bares, padarias ou restaurantes na cidade. Apesar de todas as dificuldades que o povo venezuelano enfrenta, especialmente com a cruel guerra midiática e o confisco de bilhões de dólares, por parte dos EUA, a vida no país de Bolívar e Chávez contínua.

Algumas ações do Governo Bolivariano da Venezuela, que pude conhecer e ver, que foram realizadas desde a vitória de Hugo Chávez, em 1998? > Comunas



Um espaço de construção coletiva, proposto por Chávez e iniciado em 10 de agosto de 2012. Congrega os trabalhadores, os indígenas, as mulheres, os LGBTs, os negros, os camponeses e todo o povo, que de forma autogestionária se organiza em sua comunidade para enfrentar e superar a sociedade individualista e de exploração, sustentada pelo capitalismo. Fomenta e fortalece a criatividade e o Poder Popular. Organizam-se por quadras, municípios, comunidades urbanas e rurais. Onde há um agrupamento humano está em processo de formação uma Comuna. Em 2015, existiam 1002 comunas e 44.358 Conselhos Comunais em todo o território nacional . Todo o trabalho é orientado, acompanhado, promovido e incentivado pela Fundação para Desenvolvimento e promoção do Poder Comunal, que busca fortalecer o autogoverno e aprofundar os ideais e práticas do socialismo, proposto por Chávez em três pilares: o bolivarianismo, o cristianismo e o marxismo.

Missão Robinson



Iniciada em 2003, com um projeto piloto em quatro Estados da Venezuela, com a aplicação do método educativo cubano “”Yo, sí puedo” (Eu, sim posso), sendo em seguida aplicado por todo o país. A Missão teve a finalidade de erradicar o analfabetismo, o que foi conseguido após dois anos de trabalho, com a alfabetização de 1.706.145 venezuelanas e venezuelanos. Em seguida, criou-se a Missão Robinson II, desenvolvendo a continuação do processo educativo até a sexta série para quem havia abandonado os estudos e os recém alfabetizados. Até 2010 a Missão Robinson havia logrado a graduação de 577.483 homens e mulheres, distribuídos em 24 estados do país. A Missão Robinson III dedicou-se a desenvolver o hábito da leitura e escrita para toda a população, forjando uma “nova cidadania”. O mesmo programa foi desenvolvido para as pessoas com algum tipo de incapacidade, os detidos no sistema penal e a população indígena. Também enviou brigadistas para a República da Bolívia, que também erradicou o analfabetismo, e a Nicarágua. Afirmam os integrantes que “a missão Robinson é a mãe de todas as missões” . Para se ter uma ideia da grandiosidade da ação, durante o governo do ex-Presidente Chávez, foi publicado e distribuído 150 mil exemplares do livro Contos, de Machado de Assis, para a população.

Missão Bairro Novo Bairro Tricolor



Criada em agosto de 2009 por Hugo Chávez. Dedica-se à transformação integral da habitação dos moradores dos bairros populares em todo o país, criando comunidades humanas em espaços geográficos dignos, seguros e sustentáveis. Busca construir uma comunidade integrada conscientemente na Comuna, como estrutura fundamental da sociedade socialista. Atua na organização popular, planificação territorial, logística e recursos, segurança, defesa territorial e produção comunal. Está estruturada em 250 espaços denominados Corredores nos 24 estados do país, especialmente onde habitam comunidades pobres e de extrema pobreza. Até junho de 2019, entregou 3.309.647 moradias, que contemplaram 10.865.820 pessoas, em um país com 31 milhões de habitantes. O Governo Maduro é responsável pela construção de 2.716.455 residências do total entregue até o momento. Todas as obras são planejadas e construídas pelos próprios moradores, com a orientação de engenheiros e técnicos. Ressalta-se, que, as moradias estão localizadas nos melhores espaços urbanos. Em Caracas, por exemplo, há enormes prédios residenciais ao lado de hotéis como o Meliá. A meta é construir 5 milhões de moradias.

Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela



O sistema desenvolve desde a mais tenra idade experiência da integralidade do ser e o desenvolvimento de suas faculdades cognitivas por meio da música. O programa atende 1.012.027 crianças e jovens em todos os estados do país. Estão distribuídos em 1.722 orquestras, sendo três profissionais e os demais alunos aptos a integrarem uma orquestra profissional. Há 1.426 corais, 694 grupos de música clássica venezuelana, 1772 grupos de iniciação musical e 266 de música popular, entre outros. O programa, dirigido pelo Maestro Cruz Almado, tem o poder de dar segurança, autonomia e fortalecer a dignidade de meninos e meninas pela arte da música.

Ensino Público e Gratuito



Antes de 1998, existiam pouco mais de 600 estudantes em universidade públicas em todo o país. Atualmente são mais de 100 mil jovens em universidades públicas criadas por Chávez e Maduro. O ensino primário, secundário e universitário é público, atendendo a grande maioria do público. Ainda há instituições de ensino privadas. Toda a educação aplicada desenvolve nos estudantes o conhecimento do blaile, libras e o resgate da história nacional, com a s lutas e conquistas do povo venezuelano.

Uma guerra de novo tipo



Os EUA, com o apoio de alguns governos reunidos no Grupo de Lima, têm desenvolvido uma guerra contínua contra a Venezuela. Esta ação se dá com bloqueio econômico, sabotagens e as constantes sabotagens, inclusive com a ameaça de invasão militar. Entretanto, a grande imprensa e as redes sociais realizam uma guerra contínua propagando mentiras, acusações e criando fantasmas contra a Venezuela e o Governo Nicolás Maduro. Isto se vê nas propagandas sobre a fome no país, a saída de venezuelanos, o discurso de que o presidente é um ditador e tantas outras mentiras propagadas. O Governo Maduro foi eleito em uma eleição que concorreram quase 20 partidos, inclusive da oposição, tendo sido eleito com mais de 67% dos votos. Tem no Governo o apoio de dez (10) partidos, integrados no Polo Patriótico, além de um elevado nível de organização e participação social da grande maioria da população venezuelana.

A mídia tem o papel de criar uma situação internacional que venha a justificar uma possível invasão, assim como os EUA fizeram no Iraque e na Líbia. Em nenhum país do mundo, um parlamentar se autodeclararia presidente da República e estaria livre, respondendo judicialmente e podendo seguir instigando contra o Estado. Se existisse nos EUA um farsante como Juan Guaidó, certamente estaria preso. Na Venezuela, os meios de comunicação da oposição seguem funcionando e propagando inverdades, sustentadas e apoiadas pelo imperialismo norte americano, que tem desestabilizado todo o continente, como fizeram em Honduras, Paraguai e Brasil.



Fotos feitas ao longo da semana em Caracas.
Foto 1 - Ato em apoio ao governo
Foto 2 - Pintura em um muro
Foto 3 - Restaurante
Foto 4 - Tenda sobre as Comunas no FSP
Foto 5 - Debate sobre a Missão Robinson - FSP
Foto 6 - Dados sobre as habitações
Foto 7 - Com Maestro Cruz Almado
Foto 8 - Grupos indígenas
Foto 9 - Populares ao entardecer
Foto 10 - Deosdato Cabelo
Pedro César Batista, jornalista e militante antiimperialista e em defesa da autodeterminação dos povos.

Crônicas de Comunas. Donde Chávez vive. La Estrela roja. Vários autores. 2015.
Missión Robinson. Ministério del Poder Popular para la educacion. 2011.

Comentários

  1. ¡Gracias Pedro por venir a conocer nuestra verdad y mostrarla al mundo! Venezuela es también tuya...aquí la vida continúa y estamos seguras y seguros de que seguiremos ¡VENCIENDO!

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  2. Pedro, meu Camarada,seu relato autentica o que a gente sabe ser a realidade da bolivariana Venezuela. Ela é exemplo de dignidade ao mundo que se põe de quatro ao selvagem capital. A camaradagem social deste povo aguerrido há de espalhar-se por toda Grande Pátria. Valeu vou encaminhar p diversos.Abraços

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