1964 é hoje




As ações golpistas de 1964 deixaram ensinamentos que não foram devidamente observados pelos setores democráticos e progressistas no Brasil. Naquele ano, os EUA aliados aos grupos serviçais e entreguistas, civis e militares brasileiros, derrubaram João Goulart e iniciaram um longo período de arbítrio, prisões, torturas, exílios e mortes.


O Congresso Nacional, quando empossou Ranieri Mazzilli como presidente do Brasil, após este, como Presidente da Câmara dos Deputados, ter declarado a Presidência da República vaga, mesmo com João Goulart em solo brasileiro, assumiu o papel de protagonista do golpe. Treze dias depois, em uma eleição fraudulenta, com o aval dos EUA, em 11 de abril, o parlamento elegeu o general Castelo Branco para presidente. Os militares ficaram 21 anos no comando do país, considerando a eleição indireta de Sarney, ou 25 anos, levando em conta a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988.





Novamente, em 31 de agosto de 2016, o Congresso Nacional, agindo como traidores da legalidade e do povo brasileiro, cassou a presidenta Dilma Rousseff. Nos dois momentos os EUA tiveram papel determinante para que as cassações, que resultaram em golpes, ocorressem. Foram investidos milhões de dólares em campanhas de difamação, propagando acusações relacionadas à corrupção, utilizando a mídia e que visavam ganhar apoio das massas. Acrescenta-se a isso, a ação do STF, que, por meio de seu presidente, Ricardo Lewandowski, presidiu a sessão final e deu a aparência necessária de legalidade ao processo golpista.


O papel desenvolvido pela grande imprensa nos dois momentos teve influência decisiva para a sensibilização e manipulação das camadas populares e a mobilização da classe média e da pequena burguesia. Atuando de maneira criminosa e ilegal, com uma contínua e intensiva propaganda contra os governos, em 1964, contra João Goulart, e em 2016, contra Dilma Rousseff, criou um clima de instabilidade e insegurança política. Também foi usada nos dois momentos a religião, primeiro, na Marcha de Deus pela Pátria e a Família; mais recente a ação desenvolvida por setores neopentecostais.


Em 1964, João Goulart, depois de costurar um amplo acordo político e derrotar o parlamentarismo durante o plebiscito, em 1963, iniciou a implantação das reformas de “base”, como a estatização de empresas estrangeiras, o controle da remessa de lucros e a reforma agrária, que não foram aceitas pelos EUA, que tinha visto Cuba fazer uma revolução cinco anos antes. Goulart não tinha nenhuma inclinação para o socialismo, menos ainda para o comunismo, mas os norte-americanos não aceitavam que o Brasil se tornasse uma nação forte e com influência internacional, especialmente com a realização das reformas. Em 2016, os governos de Lula e Dilma passaram a atuar de maneira independente, fortalecendo o BRICS e a aliança Sul-Sul, a economia interna e o papel desempenhado pelo país a nível mundial, o que também desagradou o governo norte americano. Mesmo o PT realizando um governo que se sustentou em ações sociais, não atacando as estruturas econômicas, a elite brasileira, herdeira da colônia e detentora de riquezas graças às profundas contradições existentes no país, aliou-se novamente aos EUA, utilizando o judiciário, o parlamento e a mídia para romper um acordo que havia sido instituído em 1988.


Qual a relação maior que se enfrenta hoje com 1964? Naquele ano, após tomarem o poder pelas armas, usaram-nas para se manter, praticando todos os crimes contra a democracia e a legalidade, instituindo o arbítrio como norma legal, especialmente após o AI-5. Em 2016, não precisaram de armas, foram assegurados pela própria estrutura jurídica estatal, criando as condições para a eleição de um governo herdeiro das políticas de 1964. Durante dois anos Michel Temer implementou ações duras para retirar direitos básicos da população, especialmente dos mais necessitados, como o congelamento de gastos para a execução de políticas públicas e a reforma trabalhista. Nesse período, os mesmos setores de 1964 (militares, mídia, judiciário, parlamento e os EUA) atuaram para levar a vitória eleitoral de Bolsonaro. Ou seja, os entreguistas e traidores do povo brasileiro não precisaram de armas para tomar o poder, com a mídia e a estrutura do Estado manipularam as informações para vencerem as eleições presidenciais em 2018.





Se os golpistas de 1964 ficaram 21 (25) anos no poder, não se poder ter ilusão que o projeto golpista de 2016 pretende ser complacente com os setores populares e democráticos. O golpe de 2016 consolidou-se com a eleição do capitão Bolsonaro e do general Mourão. O programa que pretendem executar é o que for definido pelo grande capital, o que não exclui o combate ao “inimigo interno”. O velho discurso anticomunista volta com o antipetismo, combater qualquer mobilização popular, a retomada de lutas e “qualquer tipo de ativismo não será tolerado”.


O capitalismo vive uma de suas crises econômicas, o que tem feito surgir dirigentes de ultradireita, conservadores e reacionários, por isso os EUA, agora com Trump, têm atuado para derrubar governos populares e democráticos, como ocorreu em Honduras, Paraguai e no Brasil. Agiu para destruir a Líbia e o Iraque, investiu na guerra na Síria, financia ações contra o governo da Venezuela e mantêm um bloqueio econômico criminoso contra Cuba há 50 anos. Bolsonaro tem mostrado, em sua trajetória parlamentar, e com a composição de seu ministério, que atuará como planejado antes do golpe de 2016, atuando como os generais de 1964, batendo continência e governando para os norte-americanos e o grande capital internacional.


1964 é agora, seus herdeiros estão no controle, eleitos pelo voto popular, o que lhes dá mais poder para atuar. As falcatruas da família Bolsonaro nada atrapalharão o projeto de traição nacional, antipovo e entreguista. Olhar para o início da década de 1960, analisar como os golpistas ficaram no poder por mais de duas décadas, certamente ajudará a entender a necessidade de assumir o grave momento nacional, que deverá ficar mais difícil, arbitrário e duro a partir de 1 de janeiro de 2019, com o governo neofascista, sustentado pelo judiciário, parlamento, mídia e o grande capital.





Não serão textos longos, o pedantismo ou discursos, que nunca tiveram empatia com a classe trabalhadora ou as camadas populares, que possibilitarão retomar o curso da história, preservar a democracia (mesmo com suas limitações) e criar as condições para romper com séculos de opressão, exploração e domínio de uma minoria covarde, escravagista e rural, aliada ao grande capital financeiro, que “vive com a cabeça em Miami e a bunda no Brasil”, como disse Lula.


É preciso estudar, muito, sem dúvida, procurar entender o grave momento histórico, criando as condições para reforçar a indignação, a organização, a consciência de classe, com o combate aos exploradores e seus serviçais. Sem vacilo, nem recuos e com o uso de todas as ferramentas e em todas as frentes de luta. Muitas pedras estarão pelo caminho, precisaremos destruí-las, sem esquecer que cada grão será fundamental para a construção de uma verdadeira unidade e organização que resgate a dignidade, o respeito humano e embale a construção de um tempo de justiça e paz.


Pedro César Batista

Comentários

  1. Unidade ... Esse o nosso maior desafio para enfrentar este cenário e atores
    ...por acaso, vilões.

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  2. Tá de sacanagem né? Comparar 1964 (ano que nasci) com os momentos atuais? Naquela época não existia internet e a coisa era as escondidas mesmo, os militares coagiam da maneira que queriam, isto foi verdade, mas depois do surgimento da internet, estes não tem mais domínio sobre o opinião pública . O Bolsonaro venceu porque o povo crê nele, o Lula está preso porque é bandido é ponto. Que apodreça na cadeia! É se os membros do PT são tão leais, vão ficar com ele lá, aliás, Lula-lá! rsrsr

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