Viver dignamente é uma conquista

Por Pedro César Batista

Diz o ditado popular que o hábito do cachimbo deixa a boca torta. Um, entre tantos ditos, que comprova a sabedoria do povo, com suas análises empíricas sobre a realidade e as contradições existentes na sociedade.

Os tempos atuais são muito difíceis. Em meus quase 40 anos de militância ativa na busca de uma sociedade justa e igualitária, não imaginava que viveríamos um tempo em que haveria jovens defendendo a tortura, apoiando assassinos, defendendo o retorno a um tempo de perseguição, morte e intolerância. A juventude sempre teve características por ser libertária, ousada e lutar pela justiça e a utopia. Os fascistas, durante muito tempo estiveram submersos, escondidos nas catacumbas dos quartéis, nos escritórios das grandes indústrias, redações de jornais e nas salas de aula. Mantinham-se calados, faziam provocações, diziam que está/estava tudo “russo”, que lugar de negro é na senzala ou na cozinha, que era um povo indolente, enquanto os índios eram preguiçosos e as mulheres deveriam sempre ser obedientes, que aceitassem sua inferioridade aos homens.

De uma hora para outra, para barrar as pequenas conquistas que um governo socialdemocrata, dirigido pelo PT, vieram a público, trazendo todo o ódio secular que sempre tiveram com os mais pobres, humildes e setores marginalizados. De forma subliminar, atuando pela tangente, estes fascistas, proprietários de grandes heranças, resultantes do trabalho escravo ou do roubo assegurado pela ditadura, sempre propagaram seus valores, que agora ganharam muitos adeptos.

Ocorre que, quem deveria ter trabalhado para educar de forma diferente as crianças e jovens, fortalecendo valores de solidariedade, respeito e indignação às injustiças e exploração, quando ocupou pequenos espaços do micro poder ou a usufruir as prebendas do Estado esqueceu a realidade, passando a ter um discurso de esquerda e uma prática de direita. Assim, os trabalhadores, a juventude e as camadas populares foram deixadas a mercê dos valores do fascismo, que tem uma de suas principais base no mercado, que é um grupo de parasitas que são super ricos graças a exploração do trabalho em todo o mundo ao longo da história.

Torna-se necessário, em caráter de urgência, enfrentar a realidade atual, provocar o estudo da história, criar as condições para que os de baixo assumam sua classe social, deixando de se iludir com as poderosas drogas disseminadas pelas redes virtuais e a mídia e abandonar a arrogância, o pedantismo e assumir a luta pela transformação da sociedade, a ruptura com este mundo onde o egoísmo, o individualismo e desespero para se ter um poder artificial, tem feito que mesmo setores populares têm a mesma prática da direita.

A hora é de fazer o arroz com feijão, abandonar os cachimbos e colocar o pé na terra, nos bairros, escolas e reconstruir a resistência. Viver dignamente é uma conquista, nunca será presente de nenhum senhor.

Respeitar e aprender com as lutas do povo no passado é a garantia de conquista de um tempo de justiça, paz e igualdade.

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