Ainda há luz, apesar da cegueira.
Precisamos retomar estes sonhos, não perdê-los, jamais, em nossa caminhada.
Por
Pedro César Batista
A
quantidade de luzes e cores tem deslumbrado as pessoas, não se vive um ensaio
sobre a cegueira, como pensou Saramago. Ela está generalizada e, aparentemente,
será duradoura, além de contagiante.
Passei
vários dias seguidos fora de Brasília. Estive com povos e culturas distintas.
Primeiramente em Cuba, em seguida, em terras de três Povos Indígenas,
retornando depois à capital do Brasil. Longe desta, pude ver que, apesar da
falta de lucidez, da propagação do individualismo e do reacionarismo e fascismo,
outros mundos são possíveis, sustentados por povos que resistem e ousam possuir
um olhar mais justo e fraterno entre seus membros e para o mundo exterior.
A Ilha rebelde
A Ilha rebelde
Durante
10 dias nas terras de José Martí, Camilo Cienfuegos e Fidel Castro, vivenciei,
ao lado de um grupo de dezenas de brasileiros – entre eles, comunistas,
estudantes, servidores públicos, aposentados e crianças -, vivi outra
realidade, completamente distinta do que vivemos por estas terras do planalto
central. Comprovamos que um povo é capaz de superar a miséria que lhe foi imposta
por um grupo de lacaios dos norte-americanos, que usavam a ilha como um bordel,
violentando de todas as formas sua população. A ousadia dos barbudos que atravessaram
o golfo do México e desembarcaram do Granma, contagiou de forma duradoura os
cubanos, que conseguiram em poucas décadas criar uma sociedade nova, onde a
dignidade humana, em todas as suas formas, pudesse se manifestar com força e
criatividade.
Cuba,
um país pobre, garante a todos os seus habitantes a educação, a saúde, a
cultura e os direitos necessários para que seja uma sociedade justa e
igualitária, por meio de uma economia planificada, assegurando o controle social
por meio da efetiva participação, por meio dos Comitês de Defesa da Revolução –
CDR’s e dos diversos mecanismos que asseguram uma democracia direta para seu
povo. Mesmo sofrendo, desde 1961, um feroz bloqueio econômico, inúmeras campanhas
de difamação e agressões militares, inclusive com a ocupação de seu território
pelos EUA, que mantém uma base militar em Guantánamo. Enfrentou o período
especial, superado e vencido pelo povo e governo, capazes de reconstruir a
economia nacional, preservar e ampliar as conquistas da Revolução. Além de
seguir praticando a solidariedade aos povos de todo o mundo, pois atualmente há
equipes de cubanos atuando nas áreas da saúde, engenharia e educação em 124
países. Nenhum outro país tem uma ação internacional de solidariedade de
tamanha envergadura.
Alguns
inimigos da revolução e do socialismo, costumam mandar os que apoiam o povo
cubano para este país, não sabem os estúpidos que em Cuba é possível vivenciar uma
alegria e felicidades contagiantes, capazes de inspirar e animar o combate as
injustiças sociais que crescem no mundo capitalista. Ir para Cuba é como
receber uma forte vacina contra as mentiras que sustentam o capitalismo, é
compreender que apesar de todas as demonstrações de retrocesso que o mundo
enfrenta há uma luz que irradia a esperança e disposição para espalhar um tempo
novo, de justiça, dignidade e igualdade entre homens e mulheres.
A resistência dos povos originários
E
depois da forte injeção de ânimo na Ilha, desloco-me para terras indígenas a
fim de desenvolver uma atividade profissional. Entre os povos indígenas permaneci
mais 10 dias, conhecendo uma riqueza material e imaterial de valor inestimável.
São áreas que apenas seguem sendo valiosas graças a limitação a exploração imposta
pela legislação, que asseguram a fauna, flora e vastas jazidas minerais e
hídricas nas mãos de seus verdadeiros donos originários. Se não fossem as
normas existentes, estas riquezas estariam nas mãos dos conglomerados
econômicos e restariam mais pessoas miseráveis e mais terras devastadas,
transformadas em infernos verdes de soja e outras monoculturas. Mais que isso, a
existência das terras indígenas garantem a preservação de idiomas, culturas e idiossincrasias
próprias desses povos, que resistem a uma exploração secular.
Quantos
povos indígenas foram dizimados desde 1500? Felizmente, existem povos indígenas
que crescem em sua população, assegurando a preservação de suas identidades,
conseguindo se organizar, articulando-se entre os diversos povos, negociando
com o governo e grandes projetos na defesa de seus interesses. São povos que,
apesar de viverem à margem da sociedade de consumo e do mercado, conseguem
educar suas crianças em seu próprio idioma, recebendo a orientação necessária de
suas lideranças para o uso das ferramentas tecnológicas disponíveis, mas que não
perderam sua identidade própria.
Foram
dias entendendo o porquê da desconfiança dos indígenas para com os brancos. Motivos
não faltam, após séculos de exploração, mortes e saques. Mesmo existindo um
órgão para defendê-los, eles precisam fazer o mesmo que todos os mais fracos
necessitam, que é organizar-se para defender seus interesses. Nada mais que
isso.
Os
indígenas merecem respeito por sua cultura e identidade, comprovando que a
diversidade e a riqueza étnica e cultural existentes no Brasil fazem deste país
um nação privilegiada e única no mundo. O que falta, por aqui, é justiça
social.
Em terra
de branco
De
volta a Brasília o que encontro?
Na
capital federal posso ver a síntese do que os cubanos combatem e os indígenas
resistem. O Estado, que, em tese, deveria servir aos interesses de toda a
sociedade, é dirigido por um grupo de serviçais do grande capital, controlado
por banqueiros, latifundiários e especuladores da pior espécie. Estes, depois
de romperem um acordo com o governo eleito, após a cassação da presidente Dilma
Rousseff, agem conforme todas as diretrizes apontadas por Nicolau Maquiavel.
Rapidamente, aprovam mudanças na Constituição Federal congelando o investimento
de recursos públicos na execução de políticas para os mais necessitados por
duas décadas. Colocam todo o aparelho de Estado, coordenados por ações do
Judiciário, para assegurar a legalidade da retirada de direitos elementares da
população, atacando, de forma cruel, prioritariamente aqueles que mais precisam
da estrutura pública.
Para
dar sustentação a essas ações, sem dúvida criminosas, pois atacam a população
mais carente, a grande imprensa, comandada pela Rede Globo, utiliza a televisão
como um palanque contínuo para deformar os fatos e fazer a população crer que
as ações em curso são melhores para todos. O que dizer de tanto cinismo, quando
o governo tem servido de maneira eficaz aos interesses do agronegócio, quando
autoriza a venda de terras brasileiras aos estrangeiros, quando deixa de
investir na Petrobras e retira da empresa o monopólio para a exploração do
petróleo no país, quando defende uma reforma previdenciária que colocará
milhões de trabalhadores em completa penúria, especialmente os mais pobres,
quando definirá a data limite para a aposentadoria para homens aos 70 anos e
para as mulheres aos 65 anos, inclusive do campo? O que dizer de tanta
desfaçatez contra os mais necessitados?
Ao
mesmo tempo, em todo o mundo, a cultura do consumo, do individualismo e da
negação da importância do trabalho aumenta. Cresce de tal maneira que os mais
pobres em todo o planeta não mais poderão circular, nem entrar em outros países,
como nos EUA, que diferente de Cuba que atua de forma humanitária em mais de
cem países, têm provocado guerras, realizado invasões e financiado o terror em
todo o planeta. Há uma crescente injustiça no mundo, com um número cada vez
mais reduzido de milionários concentrando a riqueza produzida por bilhões de trabalhadores
e trabalhadoras por todos os continentes. O que tem importado é aumentar e
concentrar a riqueza, deixando cada vez um número maior de pessoas em situação
de miséria e abandono. Os estados nacionais se transformaram em filiais das
transnacionais monopolistas. Estas, como parasitas, seguem sugando o trabalho e
as riquezas naturais no planeta, colocando em risco cada vez mais a
continuidade da espécie humana.
Esta
situação mostra a importância da defesa da experiência desenvolvida em Cuba e
pelos povos indígenas, os quais são capazes de resistir, defenderem seus
direitos e conquistas, apontando para a utopia de um mundo onde as pessoas, a
fauna e a flora vivam em completa harmonia.
Combater
às injustiças, a exploração do homem pelo homem, a destruição ambiental e das
culturas cada vez mais torna-se uma obrigação, uma necessidade, assim criando
as condições para que o imaginário do planeta deixe de ser o consumo, o
individualismo e a busca pela satisfação de seus interesses privados, mas que
seja a construção de uma relação mais justa entre as pessoas e a natureza, onde
o trabalho seja valorizado e a riqueza produzida distribuída de forma
igualitária e justa.
É preciso
romper a ignorância propagada pelos serviçais do grande capital, que atuam de
maneira covarde e cruel em todos os lugares, para que seus patrões sigam
destruindo sonhos e utopias.
Assim
como foi a revolução russa, em novembro de 1917 – faz um século neste ano, que
tirou um país do feudalismo e o transformou em uma potência capaz de derrotar o
nazifacismo, levando a sua população a um patamar de vida nunca antes visto,
Cuba segue sendo esta luz na história da humanidade. Foram o bolcheviques, os
sovietes, agora, o CDR e o Poder Popular, ou a resistência dos povos indígenas,
todos seguem firmes na defesa da utopia de um planeta justo, com homens e
mulheres emancipadas, livres e felizes.
Precisamos
retomar estes sonhos, não perdê-los, jamais, em nossa caminhada.
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