Resistir é uma necessidade!!!


Por PEDRO CESAR BATISTA 

Despolitização programada

Nunca foi diferente na história da humanidade a luta entre oprimidos e opressores. As oligarquias sempre atuaram com todas as forças para manter o controle do Estado. Em nenhum momento as classes dominantes vacilaram em fazer uso da violência, propagando calúnias, aplicando a tortura e assassinado os que ousam lhes enfrentar. Para isso, utilizam todos os meios para propagar suas mentiras, tornando-as sagradas, as quais acabam sendo repetidas por setores que não conseguem entender que estão sendo manipulados pelos seus opressores.

Há uma ação planejada para que a luta por justiça seja pulverizada. Difundiu-se o discurso de que o que importa é o empoderamento do indivíduo, do grupo ou de um segmento. Os opressores propagam que não há mais explorados nem exploradores, que é preciso haver harmonia entre as classes. Afirmam através de seus intelectuais chapa branca, que os tempos são outros e que os estamentos sociais são outros. Assim, as classes dominantes, sustentam uma fragmentação social autofágica entre os setores da classe trabalhadora e das camadas populares. Esse discurso não é novo, os opressores sempre souberam colocar novas roupagens, a continuarem controlando as riquezas, o conhecimento e o Estado, enquanto preservam a maioria sujeita a exploração. Vivemos um tempo em que cada indivíduo é mais importante que o outro e cada segmento tem que lutar pelos seus interesses, usando, para isso, as brechas existentes dentro do estado burguês.

A negação das lutas entre as classes sociais, propagada por universidades e os meios de comunicação, garante que este discurso seja replicado pela população. Inclusive setores, que utilizam conceitos da modernidade e do alto desenvolvimento tecnológico, apropriaram-se desses conceitos disseminados pelos que controlam as riquezas e o Estado, chegando a negar a história, as experiências das lutas dos trabalhadores e abandonando o futuro, preocupado apenas com o bem estar seu ou no máximo de seu grupo no presente.

Desmonte de políticas sociais

Em 1822 se fez um acordo e se implantou o império do Brasil. Uma Assembleia Nacional Constituinte foi convocada e cassada em 1823. Acontecia o primeiro golpe. Em 1889, sem o povo ver, nasceu uma Republica de faz-de-conta, que em uma década depois massacrou os moradores de Canudos, que desenvolveu uma comunidade fraterna e solidária, liderada por Antônio Conselheiro. Veio 1930, um no golpe, outros no poder, que inicia, com Getúlio Vargas, pela primeira vez, a implantação do Estado nacional. Segue atendendo os interesses das oligarquias latifundiárias e dos serviçais do império.

Ditaduras se sucedem. 1937, o Estado novo, em 1964, os militares. Liberdade e garantia de direitos sempre concedidos em conta gotas. Importa manter o controle. O mesmo foi feito em 1979, resultado de um acordo entre os ditadores e a burguesia nacional, com a concessão de uma anistia que garantiu aos assassinos e torturadores de 1964 a impunidade. A Constituição Federal de 1988 trouxe a esperança de que viria um novo tempo. 

Pouco mais de duas décadas de investimentos em ações públicas, após a Constituição de 1988, criaram uma rede social e iniciou a implantação de ações estatais para atender aos mais necessitados. A eleição do PT aumentou a expectativa. Políticas sociais de inserção social, o aumento do acesso a bens de consumo, tudo, sustentado em uma forte aliança com o grande capital. Iniciava-se uma fase em que senhores e trabalhadores estavam sentados na mesma mesa - ou viajavam no mesmo avião. Uma crescente mudança na base da pirâmide. E um enxugamento no topo. Os ricos ficavam mais ricos. Os pobres felizes acreditaram que um dia seriam patrões, poderiam ter seus serviçais. Ilusão que logo se desfez.

Destacou a presidente Dilma Rousseff durante a sua defesa, durante a votação final de seu afastamento, no Senado Federal, em setembro de 2016, que o governo do PT não havia traído o acordo feito em 2002 com a classe dominante, mas que considerava rompida a aliança, a partir da decisão que estava sendo tomada pelo seu afastamento definitivo da Presidência da República.

Pela segunda vez, desde a retomada da eleição direta para Presidência da República, em 1989, cassaram o maior mandatário do país. Agora a primeira mulher eleita presidente da República, era substituída por seu vice, um inexpressivo político, representante das oligarquias paulista, assumia o lugar. Seu papel era claro, garantir o desmonte das políticas assistenciais e assegurar o desmonte da economia nacional, com a entrega da Petrobrás e a quebra de empresas nacionais. A PEC 241/55 cumpre o papel de garantir que os banqueiros e capitalistas sigam roubando o estado, que seguirá pagando os juros da dívida, sem realizar a auditória necessária, enquanto limita e congela os gastos com a realização das políticas públicas sociais.

O STF, mais uma vez na história nacional, cumpria seu triste papel, assegurar que a oligarquias não percam o controle do aparelho do Estado e efetivar a criminalização da esquerda e setores que ousam resistir. Sérgio Moro, um juiz federal de primeira instância, que se tornou herói nacional para a classe média, desempenha o papel de inquisidor chefe. A Constituição Federal se torna letra morta. As garantias individuais e coletivas são jogadas aos porcos. E a mídia, usando concessões públicas, replicam, como água dura em pedra dura, as mentiras e discursos saídos de reuniões dominicais entre amigos que se reúnem no Palácio da Alvorada, do Jaburu ou no Jardim Botânico. Tudo, planejado, minimamente, é executado pelos responsáveis. A imprensa acusa, a justiça prende, o governo golpista e o parlamento executam o desmonte das políticas assistenciais. Cada ator exerce um papel. Até o povo, que aplaude e vota nos seus inimigos, acreditando nas mentiras difundidas como fossem verdade.  

Resistência espontânea

Mesmo os partidos políticos considerados de esquerda, que ao longo da história recente ou não, estiveram ao lado dos explorados e deserdados na defesa da justiça, esqueceram o caminho das portas de fábricas, das lutas no campo, das escolas e das periferias. Muitos de seus dirigentes se acostumaram com salas com ar refrigerado, confortáveis sofás de couro, muitos serviçais e o usufruto de todas as prebendas que o Estado oferece aos burocratas. Com muitos sindicalistas não foi diferente. São poucas as exceções dos que seguiram junto, lado a lado, com os pobres e trabalhadores, trabalhando para a construção de um novo mundo. Organizações mais fortes, quando deveriam ocupar as ruas e resistir para barrar o processo de desmonte das parcas conquistas obtidas após a redemocratização, agora estavam com discursos mais elaborados, replicando-os em redes virtuais e planejando como ganhar a próxima eleição. Assumir erros, fazer autocrítica e repensar a prática, buscando construir uma unidade programática, orgânica, capaz de refazer a luta e fortalecer a resistência ainda não estavam nas conversações. Alguns setores iniciavam uma fase de acusações.

O movimento sindical tem realizado lutas importantes, porém sem conseguir mobilizar as bases da classe trabalhadora. Manifestações chamando para greves gerais têm conseguido realizar atos, passeatas, ocupações de prédios públicos e distribuição de materiais de denúncia para a PEC 241/55 e o desmonte das políticas sociais em andamento pelos golpistas. Não há unidade das centrais sindicais, nem da base sindical. Movimentos importantes atuam isoladamente, o mesmo que o sindicalismo faz. Lutas e ações, que deveriam ser unificadas, seguem dispersas.

A juventude, de forma corajosa, tem alastrado por todos os cantos do país seu brado de resistência e defesa de direitos e da dignidade, denunciando a PEC 241/55 e a reforma do ensino médio. Centenas de escolas e universidades estão ocupadas por estudantes, que ousam enfrentar os golpistas de novo tipo, que seguem tendo suas mentiras propagadas pela mídia criminosa, diante dos graves atos que o golpismo está executando. A mídia, quando divulga a mobilização dos jovens, tem a finalidade de caluniar. Em nenhum país no mundo, nem a mais dura ditadura ou governo ultra liberal, tentou congelar os investimentos sociais do Estado por duas décadas, como estes criminosos que assaltaram o poder desejam fazer. Por isso, os estudantes o repudiam e resistem. Ousam mostrar ao mundo e ao povo brasileiro que nem todos se perderam no caminho, que ainda tem que resiste e se disponha a defender a dignidade e direitos humanos.  

Reconstruir o futuro

Os estudantes que ocupam as escolas, por todo o país, simbolizam o futuro. Uma juventude que tem a disposição para enfrentar o poder das oligarquias, as mentiras da mídia, a força da polícia, os atos injustos dos juízes serviçais, a escuridão que o STF e o Parlamento brasileiros simbolizam. A juventude que tem a coragem da estudante Ana Júlia, que falou aos deputados paranaenses que eles tinham a mão manchada de sangue, do sangue do estudante secundarista assassinado dentro de uma escola no Paraná. Os estudantes são a brisa que vem nessa aridez humana, resultante da exploração capitalista, que destrói a vida e a natureza.

O tempo, apesar do retrocesso profundo em curso, aponta para o amanhã, para a formação de novas pessoas, que fortaleçam a solidariedade entre os explorados, que tenham disposição para enfrentar os poderosos oligarcas, nacionais e imperialistas, que somente querem manter seus privilégios à custa da dor, da miséria e da opressão aos mais necessitados.

Os estudantes e todas as pessoas que não se perderam em largos corredores de palácios saberão entender o momento histórico, contribuindo para que a busca pelo socialismo, de uma sociedade onde a justiça, a dignidade e a emancipação humana estejam asseguradas.

Há um aparente avanço dos setores mais reacionários em todo o mundo, isso é reação ao avanço das lutas dos trabalhadores, especialmente na América Latina, que conseguiu, com ações dentro da institucionalidade burguesa, obter importantes avanços nos direitos sociais dos trabalhadores e dos setores mais necessitados. O momento atual, com o golpe no Brasil, os ataques ao governo venezuelano, às ameaças de guerras, as agressões praticadas em todo o mundo pelo imperialismo norte americano e seus parceiros da OTAN, exige que as forças democráticas, populares e de esquerda retomem o debate sobre a construção da unidade na defesa das liberdades, dos direitos obtidos ao longo de séculos e da soberania nacional. É preciso enfrentar a direita que se sustenta em uma mídia criminosa, e em cima de erros que foram cometidos por governos democráticos que estiveram no poder, como no caso brasileiro. O exemplo dos estudantes brasileiros mostra a necessidade da construção da unidade e de uma ação articulada, que mobilize todos os setores, para enfrentar o momento cinzento que atravessamos. É preciso ousadia e luta para superar as agressões que se abatem sobre as conquistas dos trabalhadores.

Apesar da desconfiança, do individualismo, do medo e das traições é necessário direcionar a luta para a busca de um novo mundo, única forma capaz de assegurar a dignidade humana, com a construção do socialismo. Como disse Rosa Luxemburgo, ou é socialismo ou barbárie. Caso contrário, sucumbiremos todos. É preciso ocupar e resistir, seguir exemplo dos estudantes!

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