O cinismo da democracia da direita

Conquistamos o direito a voto e uma nova Constituição com lutas e o povo na rua. Entretanto, a sociedade não pode mais que isso: votar, somente votar. Querer debater, discutir, opinar e decidir os rumos de forma participativa é inaceitável para alguns oligarcas.

A eleição mal passou e o povo é golpeado de forma cruel pela Câmara dos Deputados na calada da noite de 28 de outubro de 2014. Com a votação simbólica dos partidos, inclusive alguns da base governista, cassou-se o Decreto sobre a Política Nacional de Participação Social, instituído em maio de 2014 pela Presidência da República. A votação ainda ocorrerá no Senado.
Um pouco de história
Até 1988 o povo brasileiro enfrentou ditaduras que não deixavam a população debater, participar ou decidir sobre os rumos do Brasil. Podia-se festejar o futebol e alegrar as ruas de forma alienada, mas ter uma posição política era inaceitável, afirmavam sem constrangimento: "Ame-o ou deixe-o" para aqueles que insistiam em garantir o direito básico à participação, mesmo de forma simbólica como é o processo eleitoral, isso não era aceitável. Milhares foram presos, torturados e centenas assassinados porque não aceitaram o arbítrio e a ausência de liberdades.
Conquistamos o direito a voto e uma nova Constituição com lutas e o povo na rua. Entretanto, a sociedade não pode mais que isso: votar, somente votar. Querer debater, discutir, opinar e decidir os rumos de forma participativa é inaceitável para alguns oligarcas. Mesmo a Constituição Federal assegurando, no parágrafo único do artigo 1º que a população poderá efetivamente participar do processo politico, os mesmos que sustentaram ditaduras insistem em não deixar a população participar. No máximo podem votar, nada mais que isso. Se o povo tiver a oportunidade de se organizar e atuar em conselhos, como previsto pela CF e sistematizado no decreto presidencial será uma ditadura, afirma cinicamente juristas e políticos fascistas. O povo ter poder real e participativo é uma ditadura, um acinte a democracia, dizem, cinicamente os donos do poder.
O desrespeito ao povo
E quando o povo elege aqueles que eles não querem, acusam o povo de analfabeto, ignorante e vendido e por isso não sabem votar. O preconceito de classe é jogado de forma violenta contra a maioria da população, como ocorreu na reeleição da presidenta Dilma Roussef. Preconceito, discriminação e maldade contra o povo trabalhador e pobre.
Parte reproduz o discurso fascista
Infelizmente parte da população, mesmo pobre e trabalhadora, acaba reproduzindo o discurso anti democrático das elites econômicas, manipulados pela mídia fascista, serviçal do poder econômico e contra os interesses nacionais. Isso tudo também e replicado em igrejas, escolas e universidades como um mantra que todos precisam reproduzir para se salvar dos vermelhos e comunistas, que farão do Brasil uma república dos soviets.
A contradição do discurso reacionário
Uma enorme contradição, pois a luta pela democracia custou muitas vidas, e sempre lutamos para que a sociedade tivesse vez, voz e poder para controlar o Estado, assim como ocorre em alguns países, chegamos, inclusive, a assegurar na CF o direito da população participar através dos Conselhos, plebiscitos e referendos, mas isso é apenas na lei, pois de fato os reacionários de sempre não permitem que os trabalhadores passem da cozinha, da indústria e dos campos. Somente importa a mão de obra e o voto, em forma de cabresto moderno, com a imposição do discurso único feito em todos os níveis.
O caminho é a mobilização nas ruas

A história mostra que só há um caminho para efetivar a verdadeira democracia e a justiça social, somente com grandes mobilizações de ruas. Em junho de 2013 a juventude foi a rua afirmando que não se sentia representada, pois a ação da Câmara dos Deputados de fato não nos representa, pois queremos aprofundar a democracia e os direitos, não retirá-los. Não demos aos parlamentares que representam o poder econômico um cheque em branco para decidir o destino do povo brasileiro. Isso é inaceitável. É preciso que as forças vivas da sociedade se mobilizem e repudiem de forma corajosa e evidente o fascismo do ato parlamentar. É mais do que a hora de irmos às ruas, sob pena de ocorrerem mais retrocessos, pois os fascistas não aceitam que o povo pobre e trabalhador tenha dignidade e viva de forma justa, construindo uma nova relação política na história brasileira e do mundo.

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