É hora de criar uma Frente de Unidade Popular

Foto da Assembléia Popular do DF

O momento histórico é para fazer avançar a luta do povo.

Por Pedro César Batista

Assustados, setores da esquerda e da direita, atentamente acompanham as manifestações que estão ocorrendo no Brasil. Parte da esquerda, que se ausentou das lutas do povo nos últimos anos, tenta, de todas as formas, sustentar a acusação de que tudo não passa de um golpe da direita. Esta, por sua vez, mais forte e organizada, com sua artilharia de fogo pesado, tendo na vanguarda as poderosas redes de televisão, capitaneada pela Rede Globo, busca direcionar o movimento para atacar o governo do PT, o qual até poucos dias atrás defendiam. A direita aponta para um movimento com bandeiras que não coloquem em risco o status quo ou o capital, mostrando de forma ávida as manifestações de violência que pipocam em todo o país.

Verifica-se uma total incompreensão com o que se vive. Em um único dia, segundo dados da mídia burguesa, mais de 1,3 milhão de pessoas foram às ruas no país. Apenas no Rio de Janeiro mais de 300 mil pessoas exigiram uma nova relação entre o Estado e a sociedade. Em Brasília, mais de 50 mil pessoas, ocuparam a Esplanada dos Ministérios, que terminou tendo o Itamaraty apedrejado. Atos semelhantes ocorreram em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Vitória, Belém, Goiânia, Natal, Salvador e outras capitais e cidades brasileiras: manifestações massivas e quase sempre com confronto entre a polícia e os manifestantes no final.

As manifestações, segundo a imprensa, começaram no dia 6 de junho durante ato pela redução das tarifas de transporte público na capital paulista. Essa luta, pela redução dos preços no transporte público e pelo passe livre, começou bem antes, no dia 28 de maio, em Goiânia. Depois veio Porto Alegre, em seguida São Paulo e cresceu como um rastilho de pólvora. Não mais apenas os estudantes foram às ruas, donas de casas, mulheres, trabalhadores e a população em geral. Algo novo despontou no país, deixando os velhos partidos de esquerda e a carcomida direita atônitos.

Merece atenção o fato que isso acontece em um período no qual todas as atenções estavam direcionadas para a Copa das Confederações e os preparativos para a Copa do Mundo, em 2014, com os governos estaduais (de todos os partidos) e federal (com sua ampla base de aliados) de forma uníssona, aliados a grande imprensa propagavam o evento. Destaca-se ainda que há dez anos o PT está no governo, sustentado com partidos que vão desde seus antigos aliados, como o PC do B (comandando a pasta dos Esportes), PSB e a direita, que vai do partido de Kátia Abreu (PSD) aos negociadores do PMDB em sua pluralidade. Isso para não citar aliados que são velhos conhecidos do povo brasileiro, como Maluf, Collor, Jáder Barbalho, Sarney, Renan e uma longa lista.

Como explicar que a população saia às ruas depois de 10 anos de um governo democrático e popular, o qual realizou dezenas, se não centenas de conferências para debater políticas públicas nos mais diversos setores? Nessa década milhares de pessoas debateram as mais variadas questões públicas. No entanto, o que se comprova, com o alto nível de insatisfação reinante na sociedade é que algo faltou. Será que as deliberações dessas conferências foram executadas?

Uma década se passou e agora o povo toma conta das ruas, de forma inesperada e sem a direção que os comunistas e revolucionários em todas as seus matizes ideológicos sempre desejaram. O povo foi para a rua sem ser chamado, sem ser organizado e com todas as bandeiras que foram possíveis levar. Não houve a preparação revolucionária das massas, nem a organização da vanguarda, menos ainda uma propaganda que apontasse qual o caminho trilhar. Espontaneamente pipocam manifestações em todo o país.

Nesses quase vinte dias de manifestações, o que mais chama a atenção é a despolitização do movimento, chegando ao ponto de se ouvir palavras de ordem contra os partidos, como se estes fizessem mal à democracia e prejudicassem a luta pelos direitos reivindicados. Essa massa demonstra não saber nada da história das lutas em defesa dos direitos, tem decorado o discurso propagado pela mídia reacionária de que todos os políticos e partidos são iguais. Entretanto, os partidos de esquerda têm sido os mais intimidados, com inúmeros casos de violência praticados pela massa embrutecida e manipulada contra seus militantes.

Assim mesmo não há como negar que o dique se rompeu, que uma ousadia revolucionária, sem a consciência e nem organização revolucionária, está sendo vivenciada. Os atos de vandalismo, de enfrentamento com a polícia e saques nada mais são do que uma resposta das massas à violência praticada pelo Estado e pela burguesia contra os trabalhadores. Como besouros procurando luz, ou zumbis procurando a escuridão, avançam sobre aquilo que consideram seus inimigos. Até o momento foram depredados ônibus, prédios públicos, comércios, shoppings e veículos da imprensa. Para essa massa insurgente, tudo aquilo que eles não têm identificação deve ser atacado. Uma resposta espontânea à violência secular.

Não é isso que se busca, porque também há dentro do movimento as organizações que nunca se afastaram do povo, sejam alguns partidos de esquerda que permaneceram na luta, militantes estudantis que não se tornaram chapa branca, organizações populares e sociais que permanecem juntos e na luta pelos direitos do povo contra o capital, o status quo e seus defensores.

Essas organizações populares e de esquerda precisam compreender o momento histórico, ir para as ruas, apontar caminhos, atuando de forma organizada e orgânica, sendo capaz de unificar as suas direções, combater a facistização que se propaga, a traição ao povo, as políticas contra os trabalhadores, o oportunismo, o eleitoreirismo, assim como a velha prática do obreirismo ou do basismo, refletido na atualidade. As redes devem ser a ferramenta, porém sem o espontaneísmo da juventude nem das massas que reproduzem o discurso da Globo e das elites. Ter medo do povo na rua, afastando-se dos embates, somente possibilitará que os fascistas e a velha direita se apropriem do movimento, aí sim, colocando em risco o Estado Democrático de Direito, caso a militância de esquerda não se una ao povo, criando as condições necessárias para um novo momento na história.

Vivemos uma ocasião em que a criação de uma Frente de Unidade Popular, reunindo os movimentos populares, sociais e partidos de luta, se faz necessário. Unir para lutar pelos direitos do povo e enfrentar a direita que tenta se aproveitar da insatisfação popular.

Se entre fevereiro e outubro de 1917 os revolucionários russos foram capazes de compreender o momento histórico e mudar os rumos da humanidade, quem sabe, não seja o momento de fazer a roda girar e organizar os trabalhadores e a juventude para que, dentro da democracia, seja alterada a correlação de forças que sustentam o governo Dilma criando as condições para fazer a reforma política, a reforma agrária, aprovar o imposto sobre as grandes fortunas, fortalecer a democracia direta e forjar um novo tempo ao povo brasileiro!

O cavalo não costuma passar arreado duas vezes no mesmo tempo histórico.

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