Vespas superam a espécie humana na convivência e solidariedade



Por Pedro César Batista

Zygmunt Bauman apresenta em seu livro A ética é possível num mundo de consumidores? (Zahar - 2008) o resultado de uma pesquisa onde mostra que insetos que vivem em colônias, como vespas, quando se mudam para outra comunidade são recebidos como se fizessem parte desse grupo que os recebe. Diz o texto: "ao contrário de tudo que se sabia (ou acreditou conhecer) (...)descobriu-se que uma razoável maioria de "vespas trabalhadoras" muda de ninho ao longo da vida (...): elas mudam como membros plenos e legítimos da comunidade adotiva, recolhendo nutrientes, alimentando e preparando ninhadas (...) nas quais vespas nativas e imigrantes viviam e trabalhavam lado a lado, ombro a ombro, tornando-se indistinguíveis umas das outras" (p.11).

Na contramão dos insetos está a espécie humana. Em duas grandes guerras no século XX uns milhões mataram outros milhões, onde alguns países que se sentem superiores ("civilizados", como se autointitulavam os gregos) se achavam e ainda se acham no direito de matar outros povos, seja porque fossem bárbaros, inferiores ou acreditam em outros deuses. Alguns povos se consideram com o direito de saquear secularmente outros povos e quando estes são obrigados a migrarem para as terras dos saqueadores em busca do mínimo para sobreviverem sofrem agressões xenófobas, racistas e são obrigados a viverem de forma servil e subalterna. Alguns jovens, filhos de ricos, sentem-se no direito de cada vez mais abusar de outros jovens que não tem acesso aos mesmos bens de consumo ou ao conhecimento. Outros, pretensamente líderes - políticos e religiosos - pensam ter o direito de manipular e enganar as pessoas, sem nem mesmo franzir a testa como se tivessem vergonha. Muitos usam um pretenso deus para justificar suas superioridades e massacres. Quantos não atuam como verdadeiras feras desesperadas e famintas, como se fossem de outra espécie, ficando sempre a espreita para atacar a presa e poderem saborear o sangue como lobos caçando um alimento? Nem importa que estejam saciados, o que desejam é apenas manter o status quo, usufruir as migalhas de poder, pretensos instrumentos de mando e garantir que tenham um assento ao lado dos demônios que controlam as almas e os sonhos.

O autor polonês tem surpreendido em seus livros, sempre desancando o tempo líquido do mercado e do sistema capitalista que se sustenta em mentes líquidas, com pessoas cada vez mais desesperadas e mesquinhas, como se náufragos fossem nesse tempo pós-moderno, onde a revolução técnico-científica deixa o indivíduo cada vez mais solitário e disposto a negociar todos os seus sentimentos e valores para galgar espaços de poder, garantir o acesso aos bens de consumo e vivenciar uma pseudo - segurança emocional e material.

Observar que as vespas conseguem conviver em harmonia, sem a disputa de espaço e migalhas como os seres pretensamente humanos convivem e guerreiam em seus círculos profissionais, familiares, religiosos e políticos nos faz pensar até onde a nossa espécie conseguirá manter-se sobre as demais espécies consideradas não humanas ou não terrenas.

O tempo atual é de alta produtividade, crescimento assustador da concentração de riqueza e uma propalada ilusão ao acesso aos bens de consumo, que nada inovadores são, desde as cores de esmaltes coloridos até os veículos mais modernos, enquanto todo esse conhecimento não consegue impedir a desespero individual para ser superior aos demais humanos.

O medo e a insegurança reinante asseguram o controle econômico, político e ideológico do sistema capitalista, que forma pessoas cada vez mais fieis e convictas da importância de não dar espaço aos demais seres e atuar como um capataz para manter cada um em seu quadrado, sem se importar se o humano é ou não da sua comunidade. Ao ver que as vespas superam a espécie humana na convivência, solidariedade e capacidade gerencial da produção é assustador e triste saber que isso é um fato.

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