Indíos não sairão de Belo Monte mesmo com reintegração de posse



Movimento Xingu Vivo divulga nota de resistência

A Justiça Federal de Altamira determinou nesta terça-feira (28) que seja realizada a reintegração de posse do canteiro de obras da Usina de Belo Monte que está ocupada desde segunda-feira por 170 indígenas. Eles reivindicam a suspensão dos trabalhos e estudos da hidrelétrica na Amazônia. O grupo que ocupa o terreno afirmou que não irá sair e teme que o governo repita o confronto ocorrido na aldeia Teles Pires no ano passado, quando a Polícia Federal assassinou um índio Munduruku e deixou dezenas de feridos.

Paygomuyatpu Munduruku, um dos líderes na ocupação, afirmou que o governo está tentando sufocar o movimento. “O governo está preparando uma tragédia. Nós não vamos sair daqui. O governo tem nos ignorado, ofendido, humilhado, assassinado”, disse. “Ele (o governo) já matou uma vez e vai matar de novo. Eles mataram porque nós somos contra as barragens”, explicou. Os indígenas se mostraram “ofendidos” com a declaração do ministro Gilberto Carvalho à rede Globo de que ele não teria sido “comunicado oficialmente” sobre a vontade dos Munduruku de se reunirem com o governo federal.

O advogado do grupo, Adelar Cupsinski, pediu a suspensão da reintegração de posse para que seja evitado um conflito. O prazo legal para a retirada termina nesta quarta-feira (29) às 17h.

Os índios também afirmaram estar sofrendo ameaças e intimidações dos policiais que residem no canteiro e que estão cercando o empreendimento. O grupo indígena exige a presença do governo federal, na figura do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, ou da presidente Dilma Rousseff.

Com informações do site Xingu Vivo e da Agência Brasil

Carta da ocupação: o massacre foi anunciado e só o governo pode evitar

Xingu, 29 de maio de 2013

“Nós ocupamos o canteiro de obras de Belo Monte. Nós estamos defendendo nossa terra. Uma terra muito antiga que sempre foi nossa. Uma parte vocês já tomaram. Outra vocês estão tentando tomar agora. Nós não vamos deixar. Vocês vão entrar para matar. E nós vamos ficar para morrer. Nós não vamos sair sem sermos ouvidos.

O governo federal anunciou um massacre contra os povos indígenas, os 170 guerreiros, mulheres, crianças e lideranças e pajés que estão aqui. Esse massacre vai acontecer pelas mãos das polícias, da Funai e da Justiça.

Vocês já mataram em Teles Pires e vão matar de novo quando for preciso para vocês. Vocês mataram porque nós somos contra barragens. Nós sabemos do que vocês são capazes de fazer.

Agora quem pediu para nos matar foi a Norte Energia, que é do governo e de empresários. Ela pediu para o juíz federal, que autorizou a polícia a nos bater e matar se for preciso. A culpa é de todos vocês se algum de nós morrer.

Chega de violência. Parem de nos ameaçar. Nós queremos a nossa paz e vocês querem a sua guerra. Parem de mentir para a imprensa que estamos sequestrando trabalhadores e ônibus e causando transtornos. Está tudo tranquilo na ocupação, menos da parte da polícia mandada pela Justiça mandada pela Norte Energia mandada pelo governo. Vocês é que nos humilham e ameaçam e intimidam e gritam e assassinam quando não sabem o que fazer.

Nós exigimos a suspensão da reintegração de posse. Até dia 30 de maio de 2013, quinta-feira de manhã, o governo precisa vir aqui e nos ouvir. Vocês já sabem da nossa pauta. Nós exigimos a suspensão das obras e dos estudos de barragens em cima das nossas terras. E tirem a Força Nacional delas. As terras são nossas. Já perdemos terra o bastante.

Vocês querem nos ver amansados e quietos, obedecendo a sua civilização sem fazer barulho. Mas nesse caso, nós sabemos que vocês preferem nos ver mortos porque nós estamos fazendo barulho”.

Canteiro de obras de Belo Monte, Vitória do Xingu, Pará, 29 de maio de 2013

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