IDADE PENAL: O GRITO DOS ESTÚPIDOS, A VINGANÇA E A NOVA FACE DA OPRESSÃO



Por Pietro Nardella-Dellova

(...) Eles invadiram as terras de povos milenares em nome dos deuses carniceiros, reis patifes greco-romanos e burgueses traficantes e estelionatários. Destruíram as culturas desses povos, mataram suas mulheres, seus velhos, suas crianças, reduzindo-os a tribos perdidas aqui e acolá. E, hoje, vendo-os calçados de “havaianas”, dizem que são falsos e que as terras não lhes pertencem.

Acorrentaram os negros, arrancando-os de suas nações, e os fizeram moer cana com os dentes, fabricar açúcar misturado ao suor e sangue e servir às “senhoras putas” das Cortes portuguesas. Negaram-lhes a manga com o leite e, ao final, continuaram a matá-los nos esgotos sociais, nos morros, nas privações, nas favelas e nas prisões (feitas apenas para negros e pobres). E, também, no "massacre do Carandiru"!

Transformaram italianos em “oriundi”, roubando-lhes a energia entre pés de cafés e sepulcros a céu aberto. Prenderam seus líderes, desapareceram com suas histórias e os transformaram em eternos “desordeiros”. São, hoje, apenas o resto periférico!

Eles, os mesmos, em nome dos mesmos deuses carniceiros, fodem milhões de idosos, negando-lhes socorro, ambiente familiar, assistência, aposentadoria, dignidade e, excitados, lançam as mulheres e crianças em trens desumanos (trens que lembram os meus trens, os trens que trago na dor da minha alma!).

Enquanto poucos têm tudo, a grande maioria tem piolhos! As mulheres “dão à treva” nas calçadas, nos corredores. Trazem crianças a esta sociedade hipócrita, porque os coturnos continuam precisando de pescoços a esmagar, de rostos a cuspir, de caras a bater, de jovens a violentar. Os bancos precisam de números para seus juros sobre juros e os patifes do Congresso precisam de “eleitores”. Os doentes são tratados como um monte de carne podre! São custos pesados e, vivendo, tiram a gordura dos bancos internacionais!

As crianças são enganadas, os jovens são enganados, seus pais são enganados. Todos, enfim, enganados, enquanto continuam sendo alimento de vermes, sarna e carrapatos, porque lhes dizem, falsamente, que serão o futuro e que o futuro lhes sorrirá se continuarem cumprindo seu “papel” de matriculados. Mentem, dizendo que todos terão casas, com quintais, onde possam plantar seus jardins, brincar com seus filhos, reunir os amigos, cantar e viver!

<> os jovens ouvem todos os dias, enquanto continuam a mentira, o engodo, a patifaria burguesa e o faz-de-conta estudantil.

O “deus mercado” não quer todos, não quer a maioria, não tem espaço para a maioria, não dará espaço!

A grande maioria, os milhões, continuam de fila em fila, de porrada em porrada, de mentira em mentira, de templo em templo, de fome em fome, de escama em escama, de escárnio em escárnio. São jogados para os cantos periféricos, para a escuridão, à sombra...

Eles, os mesmos de sempre, que invadiram as terras indígenas, arrancaram a “alma” aos negros, venderam as mesmas “almas”, enganaram – e enganam ainda - não sabem o que é "povo", pessoas ou seres humanos: não lhes dão o que lhes é direito universal: integridade humana!

Não lhes dão violinos, não lhes dão verdade, não lhes dão música, não lhes dão livros, não lhes dão escolas e universidades públicas, não lhes dão sentido, não lhes dão esperança. Estes seres humanos são números e inscrições tributáveis! São escórias! São carnes enlatadas!

E, depois de tudo, eles (os mesmos) vêm a público, pois não sabem o que fazer com esta massa e, ainda, como “senhores”, querem mais celas, mais prisões, mais tapetes (sob os quais esconder pessoas), mais punições, e cada vez mais, querem continuar punindo crianças, meninos, cada vez mais, tenramente! Querem oficializar a vingança privada, querem continuar mentindo. Querem punir meninos e jovens nas mãos dos quais entregaram armas de fogo e para os quais ensinaram a violência, perguntando, em coro de estupidez e insanidade:

quem lhes deu estas armas e quem lhes ensinou esta violência?

Eles, os de sempre, os criadores das trevas, sombras, violência, pobreza, opressão e peste, e que negaram violinos, livros e paz para os seres humanos, eles, os carniceiros, “justiceiros”, merecem o meu mais sonoro e monstruoso desprezo, o meu mais retumbante ódio e oposição sem trégua! Diante deles, com ou sem funeral, não tenho como emudecer!

Pietro Nardella-Dellova, in “Idade Penal: a nova opressão”, 2013

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