Liderança do distrito do Santo Antônio do Matupi é executada em Humaitá, Amazonas

O suspeito do assassinto de Nardélio Delmiro Gomes, de 47, está foragido. Causa seria vingança contra o comerciante

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Elaíze Farias

O produtor rural e uma das principais lideranças do distrito de Santo Antônio do Matupi, localizado no KM-180 da rodovia Transamazônica, no sul do Amazonas, foi executado por volta de 13h desta quarta-feira (30).

Nardélio Delmiro Gomes foi assassinado em Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), próximo a uma restaurante, onde havia ido para almoçar. O principal suspeito é Paulo Sérgio Teixeira Fidelis, que teria disparado três tiros contra Nardélio.

Gomes foi o articulador da reunião entre os representantes do distrito com o governador Omar Aziz, no último dia 14, para tentar solucionar os problemas fundiários do distrito, que na época estava sendo alvo de uma grande operação de forças de segurança federal, entre eles o Ibama, de quem foi um dos principais colaboradores.

Ele também era um dos mais atuantes defensores da transformação de Santo Antônio do Matupi em município, que está localizado na região de Manicoré (a 332,31 quilômetros de Manaus).

Segundo o delegado de Humaitá, Rafael Almeida, testemunhas do crime relataram que Paulo Sérgio havia processado Nardélio, sob a reclamação de que o pagamento dado pelo produtor rural por um trabalho na realização de um parque para realização de rodeios em Matupi teria sido abaixo do acertado.

Relatos de outras pessoas ouvidas pelo portal acrítica.com apontam que Paulo Sérgio, que está foragido, teria perdido na justiça um processo contra Nardélio.

Conforme o delegado, barreiras foram montadas em todas as saídas das rodovias para impedir a fuga de Paulo Sérgio.

O corpo de Nardélio Delmiro Gomes já foi periciado e liberado. Embora seja natural do Paraná, o comerciante já morava na região Norte desde os anos 80.

A família decidiu enterrar o corpo em Matupi. Segundo o delegado, o governo do Amazonas sinalizou ajuda no transporte do corpo.

O distrito de Santo Antônio do Matupi (mais conhecido como “180″) nasceu a partir de um assentamento de reforma agrária criado em 1994, mas que foi abandonado pelos colonos. Hoje, sua principal população é formada por migrantes do sul do país e do Estado de Rondônia.

Colaborador

Em entrevista dada ao portal acrítica.com, no último dia 10 de novembro, Nardélio Gomes mostrou-se um dos moradores mais preocupados com a ação das forças federais de segurança em Matupi.

Para Gomes, a ação deveria ser acompanhada de ações que levassem benefícios para o distrito, totalmente carente de ações de serviços públicos.

Membro do Comitê de Cidadania de Santo Antônio do Matupi, ele atribuiu a existência de irregularidades no distrito às promessas não cumpridas de políticos e à falta de agilidade do governo do Estado para a elaboração de planos de manejo (que estabelece regras para a extração de madeira e obriga a recomposição da vegetação) e na liberação do licenciamento de operação das serrarias.

Ao portal, ele elogiou a operação do Ibama para coibir a extração ilegal de madeira na região, mas batizou de “enxuga gelo”. Apesar disso, ele afirmou que a ação serviria para que pessoas do distrito “se legalizarem”.

O diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam), Edmar Vizoli, falou duas horas antes do assassinato, com Nardélio Gomes, por telefone. Vizoli vai a Matupi nesta quinta-feira, acompanhar o transporte do corpo e representar o governo do Estado.

“Na nossa conversa ele estava muito animado. Disse que com o fim da greve, o Banco da Amazônia (Basa) ia liberar dinheiro para fortalecer a bacia leiteira da região”, disse Vizoli.

Nota

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) divulgou nota lamentando o assassinato do líder rural. Conforme a nota, Nardélio Delmiro Gomes, assim como Adelino Ramos, o Dinho, assassinado em maio deste ano, eram dois importantes lutadores por dias melhores, ambos filiados ao PcdoB.

“É inadmissível que aceitemos de forma pacífica toda essa violência imposta por aqueles que se acham no direito de tirar a vida de quem luta por seu povo e sua gente. Nardélio e Dinho serão sempre lembrados pela tentativa de melhorar a vida dura de quem mora na Amazônia e na floresta

O Projeto de Assentamento Florestal Curuquetê, liderado por Dinho, e agora, o Distrito de Santo Antonio do Matupi, liderado por Nardélio, ficaram órfãos, mas suas ideias se perpetuarão.

Aos familiares de Nardélio nossos mais profundos sentimentos. E que as autoridades competentes passem a olhar com mais seriedade para fatos como esse que não cessam em pleno século 21”, conclui a nota.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Amazonia-Amazonas-Manaus-Principal-Santo-Antonio-Matupi-Humaita_0_600540157.html

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