O internacionalismo e a brigada do MST na Bolívia

Por Dayana Mezzonato, militante do MST – MG e integrante da brigada de militantes na Bolívia

“Solidariedade não é dar o que nos sobra, é dividir o que nos falta, é socializar aquilo que também temos necessidades, é fazer com sacrifícios”
Fidel Castro

Na década de 70 o cenário internacional era de muita efervescência da luta popular. Povos de diferentes lugares lutaram das mais diversas maneiras pela libertação: Honduras, El Salvador, Nicarágua, Colômbia, Peru, Moçambique, Angola e muitos outros. No Brasil, terminava a ditadura militar e surgiam novas organizações sociais, que, inevitavelmente, se inspiravam nos processos de organização popular espalhados pelo mundo.

Trabalhadores de todo o mundo se solidarizavam com as colheitas de café na Nicarágua, e nós lá estávamos contribuindo com o trabalho voluntário. Íamos com a intenção de contribuir, e ao mesmo tempo aprender. Mais tarde, estivemos em Cuba contribuindo com os trabalhos nas cooperativas de produção e participando dos cursos de formação. Visitamos diversas experiências, na Rússia, Peru, México. Nesse contexto de esperança popular, nasce o MST já imbuído do espírito internacionalista. Ele foi responsável em ajudar orientar o rumo da nossa organização por transformação social e, principalmente, a manter a mística revolucionária.

Na década de 1990, o neoliberalismo se instala de maneira brutal em toda América Latina. O internacionalismo entre os povos vai dar um passo rumo aos processos de articulações e alianças entre as organizações camponesas. Serão realizadas inúmeras campanhas, plebiscitos e mobilizações conjuntas. Como forma de resistir aos ataques neoliberais na agricultura, será conformada a Coordenadora Latinoamericana de Organizações Camponesas (CLOC) e a Via Campesina.

Em 2005, o MST inicia a primeira experiência das brigadas internacionalistas, com o objetivo principal de concretizar o internacionalismo a partir de ações práticas. Assim, são enviados militantes para terras venezuelanas, e em seguida teremos brigadas no Haiti, Guatemala, Moçambique e Paraguai.

Em 2010, mais uma brigada internacionalista deixa o Brasil, desta vez para vivenciar a realidade das terras indígenas bolivianas. A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul, onde mais de 50% da sua população vive no campo e 65% é indígena. Na última década, o povo boliviano, liderados pelos movimentos indígenas camponeses, se cansou dessa histórica condição de pobreza e opressão declarando guerra aos resquícios coloniais e ao neoliberalismo. Inauguraram uma nova Bolívia, agora dirigida pelos indígenas, camponeses e pobres. Inicia-se o chamado processo de cambio boliviano.

O objetivo da brigada é contribuir para o fortalecimento dos movimentos camponeses bolivianos a partir do intercambio de experiências. A brigada iniciou os trabalhos em agosto de 2010 com quatro pessoas, que durante cinco meses percorreram o país para conhecer a geografia, a cultura, as organizações, a política e a história da Bolívia.

Em 2011 inicia-se outra fase em que serão incorporados novos integrantes e o trabalho se dará por frentes de ação. A primeira frente está relacionada à produção, onde os militantes vão viver nas comunidades indígenas camponesas e desenvolverão atividades relacionadas à agroecologia, agroindustrialização camponesa, convivência com o semi-arido e cooperação. Outra frente de trabalho é de educação e formação, que tem por objetivo ajudar na construção das escolas indígenas camponesas de agroecologia. A brigada será composta por 11 pessoas e vai trabalhar com os movimentos que formam a Via Campesina Bolívia: Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia, Movimentos de Mulheres Indígenas Camponesas Bartolina Sisa, Movimentos dos Trabalhadores Indígenas Camponeses Sem Terra e Confederação Sindical dos Camponeses Interculturais da Bolívia.

Para nós, o internacionalismo está baseado nos princípios da solidariedade, do intercambio e da autonomia. Ou seja, contribuir com o trabalho voluntário, aprender com os povos, buscar o conhecimento a partir da troca de experiências prolongada e respeitar os processos e as organizações locais. Acreditamos que a libertação de um povo somente é possível se houver a libertação de todos os povos do mundo.

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