MORTE DE LÍDER COMUNITÁRIO NO CEARÁ

Polícia Federal poderá investigar caso Zé Maria

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16/12/2010

O "Caso Zé Maria" poderá ser o primeiro de violência no campo no Ceará com investigações no âmbito federal

Limoeiro do Norte. As investigações sobre o caso "Zé Maria do Tomé" podem tomar novos rumos nas próximas semanas. Após quase oito meses de investigação pela Polícia Civil Agrária do Ceará, sem identificar envolvidos no crime e nem ao menos conclusão de exame de balística, por determinação do Ministério da Justiça, dois agentes federais estiveram em Limoeiro colhendo informações sobre o caso.

Encontraram indícios de que as polícias Civil e Militar podem não estar isentas o suficiente para a investigação. Os agentes federais preparam um relatório que será enviado amanhã à sede da Polícia Federal em Brasília para analisar a possível federalização do caso, a primeira do gênero no Ceará. Nem mesmo o caso da missionária Dorothy Stang, assassinada no Pará, foi federalizado.

A Polícia Federal não está nas investigações "ainda", se depender do desembargador Gercino José, presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. A pedido dele e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República, o Ministério da Justiça enviou despacho ao Departamento de Polícia Federal, em Brasília, para que seja analisada a possível entrada na investigação do assassinato do líder e ambientalista José Maria Filho. Ele foi morto com 25 tiros (e não 19, como anunciava relatório pré-liminar), conforme concluiu laudo cadavérico, enquanto voltava para casa, no dia 21 de abril deste ano.

Na semana passada, dois agentes federais estiveram por dois dias em Limoeiro do Norte. A intenção era ouvir lideranças, movimentos sociais e pessoas que acompanham direta ou indiretamente as questões sociais na região jaguaribana para sentirem de perto qual o "clima" instalado sobre o caso. Na Diocese Católica, ouviram o pároco Júnior Aquino, que acompanha com a Cáritas Diocesana os conflitos na região. "Falei da pressão política e econômica que existe em torno dos agrotóxicos e das terras, e que o Zé Maria era um líder contra as injustiças".

Por acompanhar de perto há vários anos os conflitos sociais na região jaguaribana, em reportagens que denunciaram e deram repercussão nacional à problemática, o correspondente do Diário do Nordeste, Melquíades Júnior, também recebeu o pedido da Polícia Federal para contextualizar e dar sua impressão sobre a realidade social, política e econômica na região onde atuou José Maria.

"Basicamente fiz uma síntese dos fatos já publicados em matérias no Caderno Regional entre 2005 e 2009, em que pude contextualizar a atuação de José Maria nas denúncias sobre expropriação fundiária, falta de titulação de terras, conflitos entre posseiros e grileiros, bem como as contaminações por agrotóxicos. Ele era talvez a minha principal fonte jornalística nessas questões". Cópias das reportagens também subsidiaram o relatório.

Medo

Os agentes federais estiveram na comunidade de Tomé, onde morava José Maria Filho. "Percebemos o medo das pessoas de falarem sobre o caso. ´Ninguém viu nada, ouviu nada´, mas estivemos no local onde ele foi assassinado. Ali próximo há pequenas casas, inclusive uma não muito distante. Mesmo tendo sido uma ação rápida, 25 tiros levam um tempo, e ninguém percebeu nenhuma movimentação, ou nem mesmo o carro em fuga?", indagou-se o agente federal, que pediu para não ser identificado.

Sem querer fazer juízo de valor, o agente federal apontou para fatores que diminuem a isenção das polícias Civil e Militar locais. Uma delas é a informação de que a Polícia Militar realiza abastecimento de veículos em combustível cedido por produtores rurais.

Disparos

25 tiros foram disparados contra o líder comunitário José Maria Filho, assassinado em 21 de abril deste ano. Até o momento, mesmo com investigações já realizadas, ninguém foi preso.

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