Corpo de índio assassinado é enterrado; 12 fazendas são invadidas na Bahia

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Em Salvador


O clima entre fazendeiros e índios no sul da Bahia ficou mais acirrado na manhã desta segunda-feira (25), após o enterro do corpo de José de Jesus Silva, 37, assassinado no último sábado à noite, quando voltava de uma das propriedades invadidas pela tribo pataxó hã hã hãe, em Pau Brasil (511 km de Salvador). O índio foi atingido por um tiro nas costas. Durante o enterro, familiares da vítima fizeram um protesto e prometeram invadir outras propriedades nos próximos dias.

De acordo com a Associação de Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema (cidades do sul da Bahia), mais duas fazendas foram invadidas por índios entre a noite deste domingo e a manhã desta segunda-feira, elevando para 12 o número de propriedades ocupadas em duas semanas. “O que eles (índios) fazem é uma agressão psicológica. Durante a noite, eles chegam atirando, batendo nas casas dos funcionários, causando um clima de terror”, disse o fazendeiro Clóvis Maciel.

Os índios iniciaram as invasões para reivindicar a posse de 47.300 hectares no sul do Estado. “Existe um parecer da Funai [Fundação Nacional do Índio] indicando que temos direito às terras”, disse o líder indígena Gérson Pataxó. O coordenador da Funai em Pau Brasil, Wilson Souza, informou que a Polícia Federal está investigando o assassinato do índio pataxó.

Há mais de 13 anos o assassinato de um índio da tribo provocou repercussão internacional. No dia 20 de abril de 1997, cinco rapazes de classe média de Brasília atearam fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, que utilizava as estruturas de uma parada de ônibus da capital federal para dormir. “Sempre somos perseguidos pelos fazendeiros e, agora, mais um companheiro foi assassinado de forma cruel”, disse Gérson Pataxó, referindo-se ao caso de Galdino.

Luís Uaquim, presidente da Associação de Pequenos Agricultores de Ilhéus, Uma e Buerarema, disse que muitos fazendeiros ingressaram com ações na Justiça pedindo a saída imediata dos indígenas.

“Tem quase 30 anos que a gente espera uma decisão do Supremo Tribunal Federal para anular os títulos de terra que o Estado deu a fazendeiros em nossas áreas”, acrescentou Gérson Pataxó. Segundo ele, nos últimos 25 anos, os conflitos entre índios e fazendeiros provocaram a morte de 23 pessoas. “Todos os que morreram eram índios, o que demonstra que os fazendeiros não merecem o nosso respeito”, disse o líder indígena.

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