Um governo desumano e covarde.

Pedro César Batista

Covardia e desumanidade são as principais características das ações executadas na tarde desta quarta-feira, 4, por dezenas de policiais militares e civis, comandados pela Delegada - Chefe da Polícia Civil do DF, Ágatha Natasha Santos R. Braga, contra 450 famílias do acampamento Nelson Mandela, localizado na região Administrativa de Sobradinho, distante 23 quilômetros do centro da Capital Federal. Utilizaram um helicóptero e polícia de choque para atacar a comunidade.

Em menos de duas semanas esta foi a segunda ação do Estado contra as famílias acampadas, há 8 anos na área, devido a irresponsabilidade dos governos de Brasília em não regularizar as posses, apesar dos lotes estarem prontos para a definitiva regularização fundiária, segundo decisão do próprio governo.

Na tarde de 21 de outubro, antes de escurecer, a polícia chegou, com dezenas de policiais e cortou a energia, provocando, em consequência, a suspensão da água para a centenas de famílias. Retiraram também a fiação principal que fazia a ligação nas casas. Tentaram levar o transformador, mas a comunidade pressionou e o equipamento não foi levado. A ação foi comandada pela delegada Jane Klebia, da região do Paranoá.

Hoje, novamente, aconteceu outro ataque, desta vez, com mais força repressiva contra as famílias trabalhadoras. Com helicóptero, policiais militares de choque, viaturas da polícia civil e funcionários da Companhia Energética de Brasília – CEB, atacaram a comunidade disparando gás de pimenta e balas de borracha. Balearam 4 pessoas, entre as quais um garoto menor de idade. Uma senhora teve princípio de infarto e foi socorrida no Hospital de Sobradinho.

A polícia, em sua ação desumana, cruel e covarde, conseguiu seu objetivo: cortou a energia, retirou os postes, a fiação e o transformador. Deixou, ainda, centenas de famílias sem água. Os equipamentos levados pela polícia foram comprados de forma organizada, com muita dificuldade, para que ao longo desses anos que ocupam a área pudessem manter suas residências, a escolinha, a igreja ecumênica e bombear água para a caixa d’água que serve à comunidade.

A eficiência do governo de Brasília ficou evidente na ação contra os moradores do Acampamento Nelson Mandela, que há 8 anos estão no local, e nunca receberam uma ação tão eficaz do Estado para atender as crianças, as famílias ou efetivar a regularização fundiária, mas, alegando roubo de energia, mostrou a força e a disposição que o governador Ibanez Rocha tem para atacar os mais humildes e necessitados. Ataca os mais frágeis, quem mais precisa do apoio público e estatal, enquanto os poderosos seguem usufruindo das estruturas públicas para aumentarem suas riquezas.

Nesta comunidade, em 26 de março, morreu a primeira vítima da covid-19, na Capital Federal. Por isso, a ação policial, ao retirar a energia e deixar sem água mais de 450 famílias, em plena pandemia, coloca todos em risco, com a responsabilidade estando totalmente a cargo do governador do DF. Apesar de todos saberem que uma das ações principais para a prevenção contra o contágio é o cuidado com higiene, Ibanez permite que se corte a água, roube os equipamentos elétricos e coloque toda a comunidade em situação mais vulnerável e crítica ainda.

O acampamento Nelson Mandela integra a Frente Nacional de Luta Campo e Cidade – FNL, que organiza trabalhadores na luta por terra, trabalho, moradia e liberdade em todo o Brasil. Justamente por isso tem sofrido duros ataques, especialmente em Brasília. No dia 16 de outubro, a polícia de Brasília atacou outro assentamento da FNL, em Samambaia, Brasília.

Essas ações são alimentadas pelo ódio que o governo e a polícia têm contra os setores populares que ousam se organizar e lutar por seus direitos e dignidade. O governo e a polícia servem aos interesses dos grileiros e especuladores imobiliários de Brasília, detentores de milhares de hectares e moradias destinadas somente a especulação, ao mesmo tempo que faltam condições mínimas para que a maioria da população tenha garantida seus direitos e dignidade.